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    R7 | Roubos crescem 10,8% e homicídios caem 5,2% nos três primeiros meses do ano em SP, aponta estudo

    13 de junho de 2022 às 02:46

    Por Fabíola Perez (acesse o texto original publicado pelo R7)

    Crimes patrimoniais são impulsionados por roubos de celular e de motocicleta. Casos de letalidade violenta caem 12% em SP

    O número de roubos praticados em São Paulo cresceu 10,8% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com o Boletim Sou da Paz Analisa, divulgado nesta segunda-feira (13), pelo Instituto Sou da Paz, foram 59.904 registros de roubos neste ano contra 54.077 no mesmo período do ano passado.

    Os maiores registros ocorreram em regiões do interior e na capital paulista. Os roubos de veículos seguiram a mesma tendência e tiveram um aumento de 15,9% no estado. Na capital, o crescimento foi de 23,9% e no interior, de 22,5%.

    Enquanto os crimes patrimoniais aumentaram, os assassinatos tiveram uma redução de 5,2% no estado de São Paulo, passando de 748, no primeiro trimestre de 2021, para 710 nos primeiros três meses deste ano. A maior queda se deu na Grande São Paulo, com a redução de 11,8% na comparação com os primeiros três meses do ano passado. O total de casos de letalidade violenta, que reúne ocorrências de homicídios dolosos, latrocínios, mortos pelas polícias em serviço e fora dele e lesão corporal seguida de morte também tiveram queda de 12,1%.
    A diminuição da letalidade violenta, de acordo com o coordenador de projetos do Sou da Paz, Rafael Rocha, pode estar relacionada ao investimento em armas não letais, ao controle e à fiscalização do trabalho da polícia em São Paulo nos últimos dois anos.

    Segundo ele, além do uso das câmeras corporais, medidas complementares devem ser adotadas. “Antes, nada acontecia ou o policial era afastado. Hoje existem medidas intermediárias”, diz o pesquisador. “Não adianta registrar imagens se elas não forem analisadas, se os policiais que agirem com excesso de força não forem responsabilizados. Isso a polícia de São Paulo tem feito.”

    Os latrocínios, roubos seguidos de mortes, costumam ter números absolutos mais baixos. No primeiro trimestre de 2021, foram 44 ocorrências contra 43 no início deste ano. “Quando há um aumento no número de roubos, a tendência é que haja de latrocínios também”, diz Rocha. “É um crime mais complexo porque envolve a arma de fogo e a piora da situação econômica, que pode influenciar os roubos.”

    Crescem os crimes patrimoniais
    Já os crimes patrimoniais retornaram aos patamares elevados anteriores à Covid-19. “Em 2017, os registros de roubos de veículo começaram a cair. No segundo trimestre de 2019 foram 12.103 veículos roubados, contra 6.137 no segundo trimestre de 2020, já no auge da pandemia. Uma redução de 49%”, ressalta. No entanto, segundo ele, a redução registrada nos dois últimos anos é consequência da baixa circulação de pessoas nas ruas. “É uma diminuição artificial. O crime se adequa e as polícias tentam se antecipar.”

    Entre janeiro e março, a capital registrou 34.654 mil roubos, excluindo os de carga e de banco. No mesmo período do ano passado, meses em que o país vivia uma onda de Covid provocada pela variante Ômicron e novas medidas de isolamento social foram postas em prática, foram registrados 30.689 casos. Antes do início da pandemia, nos três primeiros meses de 2020, foram 39.226 registros. “Isso mostra que, com as pessoas voltando a ter um cotidiano quase normal, retornamos aos patamares de 2020”, diz Rocha.

    Para o pesquisador, delitos envolvendo celular impactaram os registros. “Existem aparelhos muito caros que podem ser utilizados para golpes”, diz. Além disso, segundo ele, as pessoas costumam fazer mais boletins de ocorrência por roubos de celular do que de outros itens.

    O ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, afirma que crimes patrimoniais estão relacionados ao interesse do autor ou a motivações econômicas. “Teve um significativo aumento de celulares em circulação, que passaram a ser o objetivo dos criminosos”, diz. “Com a rápida sofisticação dessa modalidade, eles passaram a ter nas mãos não apenas o objeto em si, mas a buscar dados das vítimas nos aparelhos”, afirma. Por isso, o roubo de celulares impulsiona crimes como sequestros e extorsões.

    Não temos mais a subtração dos celulares pelo objeto em si. Essas ações acontecem quase como uma chave para outras ações

    MARCOS CARNEIRO LIMA, EX-DELEGADO

    A modalidade de roubo de celulares hoje, explica Lima, difere daquela que se configurava há seis anos. “Não temos mais a subtração dos aparelhos pelo objeto em si. Essas ações acontecem quase como uma chave para outras.” Por isso, segundo ele, é preciso investigar as pessoas que fomentam essas ações. “Quem vai acessar não é a mesma pessoa que faz a abordagem.”

    Os crimes patrimoniais não mobilizam somente o suspeito e a vítima. Rocha alerta que por trás da abordagem imediata, há uma cadeia de pessoas especializadas nessa modalidade criminal. “Receptação, aplicativos de banco, redes e pessoas com especialização no crime apoiam o ladrão que está na ponta e criam as condições para que ele atue”, explica Rocha.

    Os roubos de veículo também apresentaram, segundo o pesquisador, um movimento semelhante. Na capital, foram registradas 3.547 ocorrências entre janeiro e março deste ano. Em 2021, foram 3.343 casos. Antes da pandemia, foram registrados 4.577 roubos de veículo na cidade. “Quando o mercado regular fica defasado, o carro começa a ser visado para ser desmontado e ter as peças vendidas”, diz Lima. “O aumento no preço dos veículos e das peças faz crescer a busca por objetos no mercado clandestino.”

    Rocha, do Sou da Paz, considera a hipótese de que carros mais novos e, portanto, mais modernos, são mais roubados. Carros mais antigos, entre os anos 2000 e 2010, são mais furtados. Isso porque, de acordo com ele, o furto demanda uma “maior capacitação” para que a subtração do objeto ocorra sem o uso da violência. “Conforme os mecanismos vão se atualizando os ladrões têm menos tempo para se familiarizar”, diz.

    Motocicletas e falsos entregadores
    Rocha acredita que o aumento dos roubos de veículo pode ter sido impulsionado pela subtração de motocicletas que, por sua vez, está associada aos golpes de falsos entregadores. Em maio, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) anunciou um reforço policial direcionado ao combate desse tipo de crime. O anúncio ganhou força após a morte de Renan Silva Loureiro, de 20 anos, baleado na cabeça em frente à namorada, depois de um assalto no Jabaquara em que o homem se passava por entregador de um aplicativo.
    Para realizar a fiscalização dos entregadores, foi firmado um convênio entre Governo de São Paulo e aplicativos para o compartilhamento dos bancos de dados com o Detecta, um sistema de monitoramento inteligente combinado com o banco de dados de informações policiais da América Latina. A troca da base de dados será incorporada para facilitar a identificação de falsos entregadores. Nesse sentido, para reduzir o número de roubos, Rocha destaca que são necessárias ações de curto, médio e longo prazo.

    “O policiamento ostensivo mostra que a polícia não está inoperante. Mas, quando apenas a pessoa que comete um roubo é presa não se ataca toda a estrutura e não se resolve o problema”, afirma o ex-delegado Lima.

    A sociedade se indigna e o Estado tenta dar uma resposta generalizada, muitas vezes, criminalizando categorias inteiras

    ANDRÉ ROCHA, COORDENADOR DE PROJETOS DO SOU DA PAZ

    A investigação qualificada é defendida pelos especialistas como um meio de coibir os delitos. “A sociedade se indigna e o estado tenta dar uma resposta generalizada, muitas vezes, criminalizando categorias inteiras.” Outros aspectos, segundo Rocha, devem ser levantados nas investigações, como o destino do dinheiro desviado do aplicativo. As empresas também precisam ser responsabilizadas nesse processo. “Deve ser feito o monitoramento desses entregadores que trabalham sob o contexto de precarização.”

    De acordo com o ex-delegado da Polícia Civil Lima, as motocicletas são ainda mais visadas para revenda de peças. “A população espremida por vários fatores, inclusive econômicos, compra essas peças e isso impulsiona o mercado e dá capilaridade ao crime.”

    Regiões com maior taxa de roubos
    Os maiores aumentos no número de roubos ocorreram em regiões do interior e na capital. Segundo o boletim do Sou da Paz, os dez Departamentos de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) registraram aumento nas taxas do primeiro trimestre de 2022 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em Santos, cidade com a taxa de roubos mais elevada, foram 158,6 roubos por 100 mil habitantes.

    Em relação ao roubo de veículos, houve aumento da taxa em sete dos dez departamentos, com maiores índices em Piracicaba e Campinas. “Os carros chefes são essas cidades”, diz Rocha. “As ações envolvem dinâmicas locais. Por exemplo, Campinas, é uma região de passagem, de escoamento para outras cidades.”

    Queda da letalidade policial
    A análise mostrou ainda que a letalidade policial teve redução de 45,6% no primeiro trimestre de 2022, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses do ano passado, policiais em serviço e de folga foram responsáveis por 204 mortes. Entre janeiro e março desse ano, foram 111 pessoas mortas pela polícia.
    Em relação às mortes provocadas por policiais em serviço, os dados mostram uma redução de 44% na comparação entre os primeiros três meses de 2021 e 2022. Os números mostram ainda que houve um aumento das mortes de policiais em serviço e fora das atividades. Segundo o boletim, foram dois policiais mortos em serviço nos primeiros três meses de 2022, e 12 policiais mortos fora de serviço no mesmo período, a metade dessas mortes cometidas na capital paulista.

    O ex-delegado Lima defende o uso das câmaras corporais também para a proteção dos agentes. “O policial é um agente da lei, não pode ser um justiceiro. Na hora do operacional, muitas vezes, ele falha e acaba matando o criminoso rendido”, diz. “Ele não é heroi, por isso tem que estar preparado física e psiocologiacamente para agir e ter o amparo da lei. O policial precisa voltar vivo para casa, sem ter de responder no banco dos réus.”

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