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    Folha de Londrina | ‘Novo cangaço’ se alastra e Paraná segue como alvo

    31 de agosto de 2021 às 02:30

    As ocorrências do “novo cangaço” seguem se alastrando por todo o país. Somente nesta semana, além do ataque em Araçatuba, no interior de São Paulo, na madrugada de segunda-feira (30), o caso mais recente ocorreu justamente em território paranaense.

    Por Lucas Catanho (leia a matéria completa publicada pelo Jornal de Londrina)

    Novo cangaço' se alastra e Paraná segue como alvo
    Clayton Khan/AFP

    Desta vez, cerca de oito homens armados assaltaram, na madrugada desta terça (31), uma agência bancária em Mariluz (Noroeste), usando explosivos para abrir caixas eletrônicos, segundo informações da Polícia Militar. Não houve registro de feridos.

    Ainda de acordo com a PM, o assalto ocorreu por volta das 3h e envolveu dois veículos. No local, foram encontrados estojos de munição compatíveis com armamentos como carabina e fuzil.

    Os assaltantes só conseguiram abrir um dos caixas. A Polícia Civil, que investiga o caso, diz que o montante levado ainda estava sendo levantado. Afirma ainda que imagens de câmeras da região devem auxiliar nas investigações.

    Segundo a PM, os assaltantes fugiram em direção a Umuarama e espalharam os chamados “miguelitos”, pregos retorcidos usados para furar pneus. Um veículo usado pelos assaltantes foi encontrado incendiado em Goioerê.

    Na madrugada de segunda-feira, um grupo fortemente armado invadiu a cidade de Araçatuba, no interior de São Paulo, e atacou duas agências bancárias com explosivos. Eles tentaram invadir um terceiro estabelecimento, mas não conseguiram entrar.

    Na cidade paulista, os criminosos fizeram moradores de reféns, dispararam bombas e atearam fogo em veículos, em uma ação que deixou três mortos, incluindo um dos integrantes da quadrilha.

    PARANÁ

    Nos últimos 6 anos, foram registradas pelo menos 15 ocorrências do tipo no Paraná. Em geral, os alvos são cidades de pequeno porte por conta do tamanho do efetivo das forças de segurança. “De maneira geral, os criminosos escolhem as cidades menores por não terem efetivo policial que possa responder rapidamente”, analisa Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz. No entanto, mesmo havendo efetivo policial considerável, os ataques não deixam de ocorrer em cidades maiores.

    ESTRATÉGIA

    Langeani considera que a prevenção desse tipo de crime passa por melhorar a estratégia de atuação policial, já que, por meio da inteligência, seria possível agir preventivamente, interceptando armas pesadas, por exemplo.

    “Hoje existem muitas polícias especializadas no tráfico de drogas, mas, no Brasil, apenas dois estados têm delegacias especializadas para combater o tráfico de armas: o Rio de Janeiro e o Espírito Santo”, apontou.

    Em termos de esclarecimento desse tipo de crime, Langeani considera que as polícias têm feito um trabalho razoável, sendo que em vários casos estão sendo presos alguns mentores. “É preciso atuar preventivamente, com interceptação do tráfico de armas e de munição. Hoje, no entanto, a gente não vê prisão de grandes traficantes de armas.”

    O especialista ainda cita as flexibilizações da legislação para aquisição de armas e das medidas de controle por parte do governo federal. “Com isso, a polícia está com menos mecanismos para rastrear esses itens. Ou seja, o sistema de controle está mais frouxo e a estrutura para combate ao tráfico de armas e explosivos é inadequada”, destacou.

    Segundo o especialista, a maioria dos explosivos utilizados nesse tipo de ação criminosa vem de pedreiras de mineração e são “desviados para as quadrilhas por conta da falta de fiscalização”. “

    No caso das munições, algumas são desviadas das Forças de Segurança e também houve uma facilitação das vendas de máquinas de recargas de munição, de forma que isso se multiplicou e centenas de pessoas podem fazer em casa munição não rastreável, algo perfeito para o crime organizado.”

    Com relação ao armamento pesado, como fuzis, o especialista diz que a maioria é proveniente do tráfico internacional. “Policiais civis e a Polícia Federal devem contar com estrutura suficiente para identificar e rastrear esse material, além das lojas que vendem isso. Identificar os fornecedores, quem lucra com o comércio e atuar para que haja um impacto em maior escala.”

    EXPLOSÃO

    Ex-secretário nacional de Segurança Pública e membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública, José Vicente da Silva relembra que o Brasil chegou a registrar 2 mil ataques do tipo em um só ano, cerca de dez anos atrás.

    “As ocorrências caíram por um motivo muito simples: os bancos perceberam que reduzir a oferta de oportunidades aos criminosos implicava numa mudança tecnológica. À medida em que foram implantando nos caixas eletrônicos sistema de tintas para inutilizar as notas, começou a cair esse tipo de ataque a cada ano, reduzindo de 2.000 para 200 a cada ano”, relembra.

    Geralmente, são de 15 a 20 criminosos fortemente armados que chegam a uma cidade pequena, com só uma viatura policial e dois policiais. “A polícia tem orientação para não enfrentar, senão seria massacrada. Deve se abrigar e pedir reforço das cidades vizinhas, basicamente isso é o que acaba acontecendo.”

    PREVENÇÃO

    Segundo o especialista, falta levar as tecnologias de segurança já existentes nos caixas eletrônicos para os cofres grandes dos bancos. Em caso de explosão ou de tentativa de arrombamento, as notas seriam sujas de tinta ou seria emitida uma nuvem, espécie de neblina que o criminoso não consegue enxergar 50 centímetros à sua frente.

    “A polícia também deve fazer o seu trabalho de esclarecimento. Apesar de raros os ataques, mesmo assim é importante a Polícia Civil, principalmente, fazer um levantamento cuidadoso para tentar localizar impressões digitais, além de analisar imagens.”

    O especialista defende que a inteligência deve ser um processo colaborativo entre as polícias Civil e Militar. “A função não é investigar o que aconteceu, mas prever o que está para acontecer. Com certeza, teremos novos ataques, e a qualidade e a frequência das novas ações vai depender muito da capacidade de antecipação do sistema de inteligência.”

    LAMPIÃO

    Esse tipo de assalto – quando um grupo criminoso toma o controle de uma pequena cidade para roubar – não é novo no Brasil. No início do século passado, Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, e seu bando de cangaceiros praticavam saques no Nordeste.

    No final dos anos 1990, surgiu o chamado “novo cangaço”, quando grupos de criminosos passaram a invadir cidades para saquear bancos e carros-fortes. As ações, bastante violentas, terminavam em tiroteios e mortes de policiais e civis inocentes.

    Langeani acredita que o crescimento dessa modalidade criminal ocorre de acordo com a repressão do Estado e com as tecnologias bancárias de prevenção de assaltos. “Na medida em que os criminosos conseguem sair com o dinheiro e saem impunes, essa situação gera mais estímulo”, conclui.

    A Secretaria da Segurança Pública do Paraná informou, por meio de nota, que tem trabalhado diuturnamente, juntamente com as forças policiais estaduais, feito análises constantes dos índices criminais, atuando de forma estratégica e integrada, promovendo ações para combater e reduzir a criminalidade no Estado, incluindo o reforço no policiamento, com a presença ostensiva da Polícia Militar nas ruas, aliada à celeridade nas investigações da Polícia Civil.

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