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    Valor Econômico | MacKenzie Scott doa R$ 6 mi para Sou da Paz fortalecer ações contra violência armada no Brasil

    16 de março de 2022 às 02:25

    Por Anaïs Fernandes (Acesse a matéria original)

    Para receber o aporte, o Sou da Paz passou por uma análise da consultoria internacional Bridgespan

    O Instituto Sou da Paz, que atua há 23 anos com políticas para a prevenção e redução da violência no Brasil, em especial a armada, foi uma das organizações escolhidas pela filantropa americana MacKenzie Scott para receber parte de sua fortuna como doação. Segundo o instituto, foi pago, em março deste ano, US$ 1,2 milhão (cerca de R$ 6 milhões), o equivalente a um ano de orçamento institucional e de projetos da organização.

    Para receber o aporte, o Sou da Paz passou por uma análise da consultoria internacional Bridgespan, conta a diretora-executiva do instituto, Carolina Ricardo. O fato de a organização ser transparente em seu plano de ação e nos resultados, publicados anualmente no seu site, assim como ter ferramentas de gestão para resultados, auditoria externa e mecanismos de governança contribuíram no processo de aprovação, diz a diretora.

    Para ela, a doação chancela a confiança na atuação do instituto. “Depois de uma série de reuniões com a Bridgespan, fui procurada, no fim do ano passado, por uma pessoa, em nome da MacKenzie Scott, que disse que nosso trabalho tinha sido considerado muito importante e que fomos escolhidos para receber a doação. É um indicador da seriedade e da credibilidade do trabalho do Sou da Paz e é um enorme reconhecimento”, afirma.

    Ao longo dos anos, o Sou da Paz tem produzido pesquisas sobre o perfil e circulação das armas de fogo no país, tem trabalhado para aprimorar a atividade policial por meio de parcerias com instituições de segurança, além de desenvolver projetos de prevenção da violência com foco em escolas e adolescentes, por meio de medidas socioeducativas.

    Ricardo reconhece, no entanto, que o aporte também gera grande responsabilidade. Com o dinheiro, o Sou da Paz quer fortalecer não só seu trabalho, mas a luta contra a violência no Brasil como um todo, em um momento em que o país enfrenta desafios democráticos importantes, na visão da instituição. “Foi um presente, veio em muito boa hora, temos muito trabalho pela frente. A luta contra a violência e pela segurança pública democrática ganha um reforço. O impacto desse apoio é para o Sou da Paz, claro, mas também fortalece a luta contra a violência e pela democracia no Brasil. A ajuda dela é mais do que para uma organização, é uma ajuda para uma agenda importante no país”, diz a diretora-executiva.

    O instituto tem um plano estratégico quinquenal, pautado em compromissos de trabalho, por exemplo, pela redução da impunidade de homicídios, fortalecimento da investigação e resposta a mortes violentas e desenvolvimento, em parceria com governos estaduais, de mecanismos para a retirada de armas de fogo ilegais de circulação. Outra frente inclui engajar a sociedade na busca de soluções eficientes para a segurança brasileira, por meio de formações sobre jornalismo de dados e direitos humanos para comunicadores e jornalistas comunitários e a mobilização de grupos juvenis.

    Parte do recurso será utilizado para impulsionar esses esforços, mas a maior parcela do valor recebido será destinada à construção do novo plano quinquenal pós-2022, conta Ricardo. As prioridades, segundo ela, devem ser pensadas à luz também do resultado da eleição presidencial, mas já estarão no foco do plano dar ganho de escala para a atuação do Sou da Paz, além de buscar novos caminhos de pesquisa e metodologias no campo na segurança pública e sua disseminação e impacto nos diferentes Estados. “Fazer um projeto piloto [de segurança pública] em um território é um investimento grande”, afirma Ricardo, indicando que o Sou da Paz quer ampliar as parcerias com governos regionais.

    O dinheiro também será usado no fortalecimento institucional e na formação e desenvolvimento da própria equipe, com foco na diversidade, diz ela. Segundo a diretora, o recurso doado pode ser usado livremente pela organização, mas ela precisará prestar contas ao longo dos próximos três anos.

    Não é a primeira vez que MacKenzie Scott doa para instituições no Brasil. Antes da Sou da Paz, já tinha vindo a público, no início deste ano, um aporte de R$ 4,2 milhões à Vetor Brasil, que atua com o setor público.

    Scott, que já foi casada o fundador da Amazon, Jeff Bezos, é uma das maiores filantropas do mundo e a quarta mulher mais rica do mundo, segundo a “Forbes”. De acordo com a revista, da sua fortuna de cerca de US$ 45 bilhões, em pouco menos de dois anos, até 22 de fevereiro de 2022, Scott já havia doado US$ 8,8 bilhões, para mais de 780 organizações pelo mundo — mais de quatro vezes o que seu ex-marido doou ao longo da vida, pelas contas da “Forbes”.

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