Por Lígia Guimarães, do Valor Econômico
Para Carolina Ricardo, assessora sênior do Instituto Sou da Paz, a “banalização” do uso das Forças Armadas em questões de segurança passa uma mensagem ruim à sociedade. Ainda mais em um momento que o Brasil não tem uma política nacional de segurança, e registra ondas crescentes de violência em diversas frentes: da guerra contra as drogas, do crime organizado, dos conflitos no campo e das crises no sistema penitenciário. “Existem possibilidades em que se justifica lançar mão das Forças Armadas. Talvez no Espírito Santo, no início do ano, em que não havia polícia para colocar nas ruas”, afirma Carolina.
O que preocupa, na visão de Carolina, é a combinação de fatores que agravam o cenário: o país não tem um plano nacional de segurança pública, o Ministério da Justiça está enfraquecido, e a convocação do Exército só dá sinais de enfraquecimento das instituições que deveriam zelar pela segurança da sociedade.
“Dá um recado de que as polícias estão fragilizadas e que não vale a pena apostar nelas. Enfraquece a construção democrática”, afirma a especialista. Ela destaca que, desde a saída de Alexandre de Moraes do Ministério da Justiça, representantes do Exército ganharam espaço na gestão das políticas para a área. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República é um general, Sérgio Etchengoyen; o general-de-divisão do Exército Carlos Alberto dos Santos Cruz deve assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça. “Não há problema em se colocar um ou outro quadro das Forças Armadas; mas nesse caso [as manifestações em Brasília], poderia se usar a polícia.”