“Eu acredito no caminho de volta” é a nova campanha do Sou da Paz que busca incentivar o debate sobre as alternativas de punição para o microtraficante, isto é, uma pessoa apreendida com pouca quantidade de droga, sem antecedentes criminais, que não porta armas, não integra facção criminosa e não cometeu atos de violência, mas que hoje é encarcerada com presos violentos.
A campanha, que tem como apoiadores o apresentador Rafael Cortez e o professor e doutor em direito criminal Luiz Flávio Gomes, mostra como o Brasil tem adotado uma estratégia pouco eficaz no assunto. “O país tem respondido à violência com a criação de novos crimes, aumento de penas e consequentemente superlotando prisões, uma lógica que não traz resultados positivos e agrava ainda mais o problema da segurança pública”, comenta Bruno Langeani, coordenador do Sou da Paz.
Para Rafael Cortez discutir o tema é primordial nos dias de hoje, “este debate sobre crime, punição e sistema penitenciário não pode ficar restrito apenas aos advogados, juízes, presos familiares e acadêmicos. Este é um assunto que impacta toda a sociedade, não só porque muitos recursos da sociedade são mal utilizados, mas também porque lotar as cadeias tem gerado mais insegurança para quem está fora dos muros”, salienta.
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Nos últimos 10 anos a população carcerária mais do que dobrou, crescendo 128%, fenômeno que facilitou o fortalecimento das facções de presídio que se alimentam da ausência do Estado e das condições precárias das cadeias superlotadas. Como o crime de tráfico de drogas é um dos principais responsáveis por esse crescimento, a campanha é focada nos microtraficantes.
Segundo Luiz Flávio Gomes a pena educativa é uma solução eficaz que realmente recupera o autor do crime. “Punir com educação significa fazer as coisas com mais racionalidade onde vemos a diminuição dos custos do preso e a preparação do condenado para a cidadania. É preciso punir, quando for o caso de punir, mas transformá-lo em um cidadão que conheça os seus direitos e respeite a todos. A punição educativa tem essa virtude, custa menos e aprimora ou prepara a pessoa para a convivência em sociedade”, afirma.
“Eu acredito no caminho de volta” mostra que com esse tipo de punição a pessoa paga com trabalho junto às entidades públicas ou entidades comunitárias, como hospitais, escolas, abrigos. Muitas vezes a discussão carcerária sobre penas é identificada como um tema que só interessa aos criminosos, mas na verdade a política de encarceramento afeta a todos. Se a pessoa sai do presídio pior do que entrou, isto afeta à sociedade, se as facções de presídio se fortalecem, aumenta o crime do lado de fora das cadeias.
Acesse o site interativo da campanha (https://soudapaz.org/caminhodevolta/) e saiba mais sobre as penas alternativas para o microtraficante, perfil dos presos por tráfico, panorama do sistema carcerário no Brasil, entre outras informações. “O debate da pena alternativa é fundamental para a justiça criminal, é preciso desconstruir a noção de que o aumento das penas e a privação de liberdade são as únicas respostas possíveis para a responsabilização”, finaliza o coordenador do Instituto Sou da Paz.