A recente proibição dos rolezinhos, encontro de jovens da periferia em shoppings centers na capital paulista, por parte do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo vai à contramão do que se espera de uma política de segurança pública eficiente e democrática.
Proibir a livre circulação de pessoas, sejam elas jovens, velhas, negras, brancas, pobres ou ricas, baseada exclusivamente no medo e no preconceito é discriminação e todo o resto é balela. Assumir que esse tipo de medida restritiva visa garantir a segurança pública é seguir na lógica das respostas pontuais e sem embasamento técnico que marcam as políticas de segurança pública em nosso país. E pior, só acirram o sentimento de desigualdade e de humilhação tão presentes nas raízes da motivação de vários crimes.
Encontros como os rolezinhos compostos por jovens de classe média acontecem desde sempre no país. A Peruada, festa pelas ruas promovida por alunos da Faculdade de Direito da São Francisco, ou a invasão de alunos da Faculdade de Economia e Administração da USP no Shopping Eldorado com gritos de guerra entre torcidas universitárias, ambas na capital paulista, acontecem e se repetem sem maiores problemas ao longo de anos em São Paulo. Só há, portanto, uma explicação para a proibição dos atuais rolezinhos: a premissa de que os pobres são potenciais criminosos e indesejados. E nesse sentido, tratar isso como caso de polícia apenas reforça essa premissa.
Uma força de segurança não pode estar a serviço de ações pautadas em medo e preconceito, e muito menos a desserviço do que ajuda a construir segurança, que é, por incrível que pareça, promover convivência. Nada justifica que a polícia atue de forma tão presente para coibir os rolezinhos. Nada justifica a decisão do Tribunal de Justiça e nada justifica parcela da sociedade legitimar esse tipo de atitude.
Seguir na lógica da proibição do uso e ocupação de espaços públicos ou semipúblicos só vai gerar revolta e insatisfação. Absolutamente na contramão de todas as cidades que enfrentaram seus problemas de violência. É a falta de convivência entre diferentes que gera medo e insegurança e não o contrário.
Luciana Guimarães e Carolina Ricardo
Instituto Sou da Paz