A partir da experiência de São Paulo, relatório para lideranças, gestores e policiais apresenta os benefícios da adoção da política de bodycams
A tecnologia mais discutida no mundo quando se fala em segurança pública é a da utilização das bodycams, câmeras acopladas ao corpo do policial. A sociedade percebeu que elas são instrumentos valiosos para a segurança pública. Pesquisas científicas, matérias na imprensa, eventos e discussões sobre o tema são inúmeros e constantes.. Já os policiais ainda estão em processo de compreensão e adaptação. Ao que tudo indica, vieram para ficar.
O Instituto Sou da Paz lança nesta quarta-feira (20/9) uma publicação que detalha a experiência da polícia do estado de São Paulo com a implantação da tecnologia. O objetivo é que o material possa ser usado concretamente por lideranças, gestores e policiais, tendo como ponto de partida os aprendizados, erros e acertos do gestor do projeto na PMESP de 2018 a 2022, o coronel da Reserva Robson Cabanas Duque. E que possa demonstrar aos policiais os benefícios existentes a partir de sua adoção.
O relatório, que também conta com a autoria da diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, detalha estratégias e recomendações para quem tem o desafio de implantar programas semelhantes. Entre as recomendações, a revisão aleatória de uma quantidade de vídeos, a importância de desenvolver estratégias de convencimento, de comunicação e de formação tanto para os profissionais de nível gerencial quanto os operacionais da polícia, e de produção de dados sobre a adoção do programa para a sociedade são alguns destaques.
“O objetivo do relatório é contribuir com o processo de implantação de câmeras corporais em diferentes polícias do país. As recomendações apresentadas partem de experiências anteriores, mais ou menos exitosas, e podem ser muito úteis aos gestores quem tem o desafio da implantação. A bodycam não tem efeito se as lideranças não estão comprometidas com a profissionalização das atividades policiais, em especial, do uso da força”, afirma Carolina Ricardo.
Nesse sentido, o documento procura evidenciar que o sistema não foi implantado para controle disciplinar e que os policiais que já utilizam câmeras há mais tempo não passaram por grandes desafios para acostumarem-se com seu uso. Lembra que a câmera é uma proteção contra falsas acusações; que os dados mostram a diminuição da violência sofrida pelos policiais com seu uso e que imagens em vídeo fortalecem as provas produzidas. Cabe lembrar que São Paulo apresentou números fortíssimos de redução de mortes entre policiais e também do uso da força com sua adoção.
“A tecnologia das bodycams por si não terá impactos sensíveis na prestação de serviços da polícia se a implantação não for acompanhada de desenvolvimento na formação e treinamento, aquisição de materiais de proteção e menor letalidade”, avalia o coronel da Reserva Robson Cabanas Duque. “É preciso apresentar aos policiais as vantagens do seu uso, que são muitas. Sem isso, serão apenas câmeras gravando erros”, alerta.
É necessário, portanto, que o processo seja compreendido para além de “comprar câmeras e acoplar ao uniforme”. A infraestrutura, legalidade, convencimento interno, comunicação externa, segurança, compartilhamento seguro de evidências, sistematização hierárquica do sistema, produção de material de treinamento, alteração de currículos e muitos outros precisam ser considerados.
Os autores também tratam de questões sensíveis como a privacidade dos dados. Contudo, concluem que a adoção da solução tecnológica de câmeras corporais nas polícias brasileiras pode contribuir para colocar o país no seleto grupo de países democráticos caracterizados pela transparência e a legitimidade de seus departamentos de polícia. Os casos exitosos podem servir de modelo para que outros estados brasileiros possam também propiciar à sua população e a seus policiais o acesso a esta tecnologia que tem trazido resultados positivos e impactantes na segurança pública.
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