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    NOTÍCIAS

    O Globo | Três armas de CACs ou clubes de tiro foram roubadas ou perdidas por dia em 2022; número é recorde no país

    30 de abril de 2023 às 04:01

    Autoridades atribuem o aumento à maior circulação de armas, mas simulação do roubo de armas regulares, com o intuito de vendê-las ao crime organizado, também contribui

    Reportagem publicada pelo O Globo (clique para acessar o texto original)

    Na esteira do aumento da quantidade de pessoas com acesso a armas nos últimos anos, o número de artefatos roubados ou perdidos de CACs (sigla pra colecionadores, atiradores desportivos e caçadores) ou clubes de tiro bateu recorde em 2022, com 1.315 casos registrados. Ou seja, a cada dia, três armas regulares registradas no país são extraviadas. Os dados foram compilados pelo Exército por meio do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma) e obtidos pelo GLOBO através da Lei de Acesso à Informação (LAI).

    As autoridades atribuem o aumento à maior circulação de armas. Mas outro motivo já descoberto para esse crescimento é a simulação do roubo de armas regulares, com o intuito de vendê-las ao crime organizado.

    No mês passado, por exemplo, a Polícia Civil do Espírito Santo descobriu que um fuzil 5.56 apreendido em posse de uma quadrilha de traficantes em Vila Velha (ES) constava como furtado no sistema do Exército. A arma estava registrada em nome de um CAC que havia obtido o certificado em 2021 e, graças a um decreto baixado por Jair Bolsonaro no início do seu governo, conseguiu adquirir o fuzil — esse tipo de calibre era restrito até então às forças de segurança.

    — Ele simulou o furto para escapar da fiscalização do Exército e da ação da polícia. Para fazer a venda sem chamar atenção. Temos outras investigações que mostram o mesmo modo de operação — disse o delegado Daniel Belchior, titular da Delegacia Especializada de Armas e Munições (Desarme).

    Armas na mira — Foto: Editoria de arte
    Armas na mira — Foto: Editoria de arte

    O CAC foi detido em março e teve a prisão temporária prorrogada neste mês. Segundo a polícia capixaba, com a ajuda de três cúmplices, ele fornecia equipamentos para traficantes de Vitória e Vila Velha. Quando foi preso, negociava a venda de um fuzil 762 e se preparava para comprar mais armamentos, de acordo com as investigações.

    No mercado legal, a arma extraviada foi comprada por cerca de R$ 20 mil. Já aos traficantes, acabou repassada por R$ 70 mil, como consta no inquérito policial — um lucro de R$ 50 mil. O delegado da Desarme afirma que o fuzil ainda foi utilizado em confrontos entre facções rivais e tiroteios contra a Polícia Militar, antes de ser apreendido pelas autoridades.

    Adolescente com pistola

    O método não se restringe apenas ao Espírito Santo. Reportagens do GLOBO publicadas em abril revelaram como milícias do Rio de Janeiro e facções de São Paulo passaram a utilizar laranjas com certificados de CACs para ampliar os seus arsenais.

    Em outro caso recente de violência envolvendo armas registradas como furtadas, um adolescente de 15 anos atirou contra três colegas em uma escola estadual de Sobral (CE), em outubro do ano passado. Um deles morreu.

    A pistola 380 pertencia a um CAC que havia tirado o seu registro em 2021. Ele, no entanto, relatou ter perdido a arma após seu carro ter sido furtado.

    — Não sabemos ainda por quantas mãos andaram essa arma até chegar no adolescente. Abrimos uma investigação específica para rastrear esse caminho — disse o delegado de homicídios de Sobral, Marcos Freitas.

    O pai do adolescente chegou a ser preso por seis meses e foi condenado pelos crimes de omissão de cautela e por fornecer a arma ao filho. A defesa dele nega as acusações e diz que o artefato foi obtido com colegas, e não pelo pai do infrator.

    Já o CAC ficou detido preventivamente por um mês, e a polícia investiga o colecionador por comércio ilegal de arma. Procurado, ele não foi localizado para comentar as acusações.

    Recadastramento da PF

    Até 2017, o número de armas roubadas ou perdidas de CACs ficava num patamar abaixo de 600 por ano. A partir de 2018, o índice começou a crescer, atingindo o ápice em 2022.

    Integrantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública preveem que esse número pode aumentar com o recadastramento de armas que está sendo feito pela Polícia Federal. O processo será concluído na próxima quarta-feira.

    Decretada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a medida visa identificar quantas das 1,2 milhão de armas compradas nos últimos anos continuam nas mãos dos devidos donos. Isso porque não é sempre que os CACs informam o Exército sobre perda ou roubo de suas armas, como manda a lei.

    Até a semana passada, 896.937 armas foram recadastradas no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), segundo o último balanço da Polícia Federal feito nesta sexta-feira. Os estados que mais tiveram novas inscrições foram São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.

    Conforme o levantamento do Exército, a maior parte das armas roubadas e perdidas em 2022 foram registradas na 2ª Região Militar (São Paulo) e na 3ª Região Militar (Rio Grande do Sul).

    — Isso acontece porque esses locais têm uma proporção maior de CACs e uma pressão maior do poder econômico das organizações criminosas que lá atuam — explicou Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz e especialista em controle de armas.

    Conforme Langeani, o recadastramento deve mostrar um panorama real de quantas armas foram desviadas ao crime organizado no país nos últimos anos.

    — É óbvio que terá uma parcela de CACs que não recadastrou por não concordam com o decreto, numa espécie de desobediência civil. Mas a maioria (que ficar de fora do novo registro) é porque a arma já voou. São armas que estão nas mãos de laranja ou facções — analisa ele.

    O policial federal e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) Roberto Uchôa acrescenta que não adianta nada ter um banco de dados atualizado se não forem tomadas providências em relação às armas irregulares. O especialista defende que o Exército faça uma “busca ativa” aos armamentos não recenseados.

    — Tem que ser feita uma ‘busca ativa’. Colocar o Exército para ir em todos os locais que não fizeram o recadastro. Essa é a medida mais lógica — afirma.

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