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    O Globo | Resposta ou revanche? Megaoperações após mortes de PMs em SP têm eficácia duvidosa, alertam especialistas

    8 de fevereiro de 2024 às 12:21

    Assassinato do cabo José Silveira Santos nesta quarta-feira, em Santos, reascendeu debate sobre violência no estado

    Reportagem publicada pelo O Globo(clique para acessar texto original)

    A morte do cabo da PM José Silveira Santos nesta quarta-feira, em Santos, levou a uma resposta do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, que se tornou a estratégia usual do governo Tarcísio de Freitas ao assassinato de policiais: megaoperações nos locais onde houve o crime. Especialistas alertam, contudo, que operações como a Escudo, lançada em julho do ano passado, se tornaram um ciclo de revanches sem efeito significativo nos índices de violência. Se por um lado a operação Escudo deixou 43 mortos na Baixada Santista desde julho, neste ano três policiais militares que participavam de megaoperações foram executados em 13 dias na região.

    Além disso, os índices de criminalidade não dão trégua na Baixada Santista. A área, principal alvo dessas ações policiais, viu o número de crimes violentos aumentar 14,5% de 2022 para 2023 (de 14.354 casos para 16.442), segundo a Secretaria de Segurança. As tentativas de homicídio saltaram de 220, em 2021, para 254 no ano seguinte e 283 em 2023.

    Para o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, “saturar o litoral paulista de policiais militares”, como defendem Derrite e o governador de São Paulo, gerou um número alto de mortes e pouco resultado na redução de indicadores criminais e na vitimização dos agentes.

    — O uso dessa estratégia não levou ao enfraquecimento da principal facção criminosa do estado. Quando você passa três ou quatro meses com batalhões especiais, já não estamos s falando em policiamento excepcional, mas rotineiro. Desgasta a estratégia e fatiga este policial.

    Histórico da operação — Foto: Editoria de Arte

    A Escudo começou depois da morte do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, no Guarujá. A primeira fase teve 28 mortes e tornou-se a intervenção policial paulista mais letal desde o massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos.

    Em 8 de setembro, três dias após o governo decretar o fim da operação, uma nova fase foi anunciada, após um policial ter sido morto e dois serem baleados em Santos e São Vicente. Durou até 1º de outubro e teve oito mortes.

    Houve outras três etapas. Este ano, a operação foi feita na Zona Sul de São Paulo, no ABC, em Piracicaba e em Guarulhos, em resposta a quatro atentados contra policiais em 18 de janeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), as ações não resultaram em mortes, e a única ainda em andamento é a da Zona Sul. Em 2023, houve 353 mortes causadas por PMs em serviço no estado, um aumento de 38% na comparação com 2022.

    A SSP afirmou que, neste ano, a Operação Escudo fez 46 prisões, 21 delas em flagrante, com 24 foragidos capturados e um adolescente apreendido. Em relação à Operação Verão, foram presas 313 pessoas e apreendidas 48 armas de fogo e 101,4 quilos de drogas. A secretaria acrescentou que dos sete mortos em confrontos na Baixada desde que a operação teve início neste mês, quatro tinham passagens na polícia.

    — O que está acontecendo ali é o combate ao crime organizado. Existe um crime organizado muito instalado na Baixada Santista — afirmou Tarcísio na terça-feira em Milão, na Itália, onde foi apresentar projetos de infraestrutura a investidores.

    Gabinete transferido

    Outro policial foi ferido no confronto em que Silveira foi assassinado. Um suspeito de atirar nos dois morreu ao pular do quarto andar de um prédio, segundo a PM. Derrite anunciou que irá transferir o gabinete da pasta para a Baixada e reforçar o policiamento e buscar criminosos “que pertencem ao crime organizado”. O secretário acrescentou que irá oferecer R$ 50 mil por informações que levem à prisão do assassino do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo na sexta-feira. Segundo o secretário, o suspeito já foi identificado e a Justiça autorizou a prisão. O nome e o rosto dele devem ser divulgados nesta quinta.

    O primeiro policial morto na região este ano foi o PM Marcelo Augusto da Silva, assassinado em Cubatão no dia 26. Silva trabalhava na Operação Verão, iniciada em 18 de dezembro para reforçar o policiamento em 16 municípios do litoral, que foi teve sua atuação expandida com o assassinato. Derrite admitiu nesta quarta que as operações Escudo e Verão seguem o mesmo método.

    — As estratégias são muito semelhantes. São enviadas equipes especializadas, que possuem equipamentos diferenciados, para que, em paralelo, a Polícia Civil possa fazer um pedido de investigação, indiciamento e prisão de criminosos.

    Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que Derrite faz política com as operações:

    — Fazia muito tempo que a gente não via dois policiais da Rota serem mortos em tão pouco tempo. Você tem uma política de segurança pública que está conduzindo os policiais para esse tipo de operação. O secretário pegou uma bandeira importante, que é a morte de policiais, e transformou em politicagem.

    Em dezembro, o Ministério Público de São Paulo denunciou dois agentes da Rota por homicídio durante a Escudo. Outros casos ainda são investigados. Na terça-feira, o governador em exercício, Felício Ramuth (PSD), disse que “todas as situações de confronto são investigadas”, mas que o governo “sempre apoia as forças de segurança”.

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