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    O Globo | Polícia precisa dar uma resposta à tragédia das balas perdidas no Rio

    14 de outubro de 2020 às 05:05

    Em apenas três dias, uma criança morreu e um motorista foi atingido ao passar pela Avenida Brasil

    Leia a matéria publicada pelo O Globo, mencionando a pesquisa “Onde Mora a Impunidade” do Instituto Sou da Paz.

    O menino Leônidas Augusto da Silva de Oliveira, de 12 anos, é mais uma criança a entrar para uma estatística infame que o Rio não consegue conter. Morador da Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, ele estava acompanhando da avó, em frente a um supermercado na Avenida Brasil, na tarde de sexta-feira, quando foi atingido na cabeça por uma bala perdida. Após quase meia hora esperando por socorro na calçada, foi levado para o Hospital de Bonsucesso, onde morreu pouco depois.

    Leônidas não estava em área conflagrada, mas naquela que é a maior e uma das mais importantes avenidas do Rio, por onde circulam diariamente cerca de 250 mil veículos. Segundo a versão da polícia, um motorista parou o carro em frente a uma equipe da PM para informar que era perseguido por dois veículos. Pouco depois, homens passaram pelo local atirando. A PM alega que não revidou. Além de Leônidas, os disparos atingiram uma mulher que estava no ponto de ônibus (ela só teve ferimentos leves).

    Não se passaram 72 horas, e o Rio já estava às voltas com outro caso de bala perdida. Na manhã de segunda-feira, o motorista Ismael Souza do Nascimento foi atingido na cabeça, na mesma Avenida Brasil, durante um tiroteio entre policiais e bandidos em Guadalupe, na Zona Norte. Ismael foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde permanecia internado em estado grave ontem à tarde. No mesmo episódio, o sargento PM Cirio Damasceno Santos, de 51 anos, morreu baleado.

    O Rio não é o estado mais letal do país. Segundo o Atlas da Violência 2020, em 2018 apresentava taxa de 37,6 homicídios por cem mil habitantes. Doze estados tinham números piores, quase todos no Norte ou Nordeste. Mas nenhum tem essa “fábrica” de balas perdidas. Trata-se de um problema crônico que o Rio não consegue resolver.

    Na anomia em que vivem o estado e a capital, o cidadão fluminense se vê refém de situações inadmissíveis, não só em relação às balas perdidas. Na segunda-feira, um ambulante morreu atingido por um botijão de gás jogado do 12º andar de um prédio em Copacabana.

    As chances de esses crimes ficarem impunes são enormes. O estado tem a menor taxa de elucidação de homicídios em todo o país, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz — apenas um em cada dez é esclarecido. A própria sociedade deixa de cobrar das autoridades, não por indiferença, mas porque histórias como a de Leônidas são rapidamente suplantadas por outras, não menos chocantes. E o ciclo nefasto não para. A polícia precisa se debruçar sobre esses casos, esclarecê-los, punir os responsáveis e criar estratégias para interromper essa tragédia que envergonha o Rio.

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