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    O Estado de S. Paulo | Com pandemia e isolamento, crime violento cai em 71% das cidades de SP

    17 de agosto de 2020 às 02:40

    Indicador elaborado pelo Instituto Sou da Paz que avalia a exposição à criminalidade teve queda de 11% no primeiro semestre ante o mesmo período de 2019, refletindo a redução de roubos e estupros, mas alta de homicídios

    Por Marco Antônio Carvalho (leia matéria completa publicada no Estado de S. Paulo, mencionando o Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV), desenvolvido pelo Instituto Sou da Paz)

    Os crimes violentos caíram em 99 dos 139 municípios paulistas (71,2%) analisados pelo Índice de Exposição à Criminalidade Violenta (IECV). O índice, elaborado pelo Instituto Sou da Paz com base nos registros de roubos, estupros e homicídios em cidades com mais de 50 mil habitantes, teve redução de 11% no primeiro semestre deste ano, ante o mesmo período de 2019.

    As medidas restritivas e o isolamento social adotados em razão da pandemia do novo coronavírus deixaram as ruas das cidades vazias em boa parte do primeiro semestre deste ano. Principalmente entre março e maio, quando o temor da infecção era mais latente, a circulação de pessoas sofreu uma brusca mudança. Com menos gente exposta, assaltos a pedestres, residências e comércios caíram, puxando a redução do IECV. Queda ainda mais expressiva se deu nas ocorrências de estupro.

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    Itanhaém e Matão são as cidades que registraram o maior e o menor índice de violência, respectivamente, no Estado de SP durante pandemia. Foto: Werther Santanana/Estadão e Prefeitura de Matão

    O melhor indicador foi o de Matão, cidade de 83 mil habitantes a 307 quilômetros da capital paulista. O município chegou a essa posição após ser a cidade que mais conseguiu reduzir os registros da criminalidade no primeiro semestre (-70%). Nova Odessa, a 135 quilômetros da capital, obteve o terceiro melhor índice – também fruto de uma queda significativa das ocorrências nos seis primeiros meses do ano (-55%).

    O IECV é calculado a partir da média ponderada de três subíndices de crimes: letais (homicídio e latrocínio), contra a dignidade sexual (estupro) e contra o patrimônio (roubo em geral, de veículo e de carga). O índice, ao agregar várias dimensões da violência e da segurança pública, permite avaliar diferentes tendências criminais.

    A pandemia afetou o Estado de formas diferentes desde a confirmação do primeiro caso da doença no País, em 26 de fevereiro. A capital enfrentou os primeiros efeitos do avanço da covid-19, que foi se espalhando para o interior nos meses seguintes. Em 24 de março, entrou em vigor o decreto estadual, válido para os 645 municípios, prevendo o fechamento do comércio e o funcionamento apenas de serviços essenciais. No início de junho, o Estado começou a reabrir, mas duas regiões (Franca e Registro) permanecem na fase mais restritiva do plano do governo. 

    Em 40 cidades (28,7%) houve alta nos registros de crimes violentos, indicando que a melhora na segurança pública não se espalhou de maneira uniforme em diferentes regiões do Estado. No litoral e no Vale do Paraíba estão as cidades com os maiores indicadores de violência, com Itanhaém no topo da lista. Essas regiões têm ainda outras quatro cidades entre as dez piores (Monguagá, Ubatuba, Peruíbe e Praia Grande).

    Assassinatos em alta

    Na contramão da tendência de redução estadual, o indicador que contabiliza os assassinatos aumentou. O Estado somou 1.522 vítimas de homicídio nos seis primeiros meses do ano (média de oito casos por dia), o que representou a primeira alta semestral em sete anos. Em 55 cidades houve mais mortes violentas no primeiro semestre deste ano do que no primeiro semestre do ano passado.

    A diretora executiva do Sou da Paz, Carolina Ricardo, diz que os dados surpreendem ao mostrar alta em quase 30% dos municípios analisados. “Chama atenção porque era um momento em que havia oportunidade para que o crime caísse”, explica. Mas ela acredita que para compreender o aumento nessas localidades é preciso considerar fatores anteriores à pandemia. “A pandemia muda algumas coisas, mas não tudo. Há muitas desigualdades no Estado e elas podem ter se mantido ao longo do primeiro semestre.”

    Uma das hipóteses analisadas é a de que a pandemia afeta a economia como um todo, incluindo a economia do crime, que tem seus recursos reduzidos no período, levando a conflitos. “Um dos métodos de resolução de problemas no crime é a violência. Então, uma região que sofre com tráfico de drogas e criminalidade organizada vai ver a pandemia agravar esses fatores”, explica a especialista.

    Os homicídios cresceram em todas as regiões, mas foi em cidades da Grande São Paulo que a alta foi mais intensa. A região composta por 38 municípios, sem contar a capital, viu a quantidade de assassinatos passar de 298 para 361 na comparação semestral entre 2019 e 2020. Na cidade de São Paulo, assim como no interior, os registros também aumentaram no período.

    Um local que se destacou negativamente foi Birigui, cidade com 105 mil habitantes a 500 km de São Paulo. Os 13 homicídios registrados no primeiro semestre são mais do que o dobro dos crimes que aconteceram em todo o ano passado – cinco homicídios. Esse foi o município onde o IECV mais cresceu.

    Uma das vítimas na cidade foi o peão de rodeio José Antônio Vieira de Andrade, de 55 anos. Ele foi morto a tiros na madrugada de 28 de junho, um dia depois de ter se mudado para uma casa nova. Um homem bateu na porta pedindo por ajuda e atirou quando Andrade apareceu. A vítima pode ter sido morta por engano no lugar do antigo morador da casa. A família pede a solução do caso, mas sem entender a motivação do crime ainda teme ser atacada novamente. 

    O vereador de Birigui Fabiano Amadeu (Cidadania) disse ao Estadão que solicita reforço na estrutura policial da cidade desde o ano passado. “A insegurança só tem aumentado, não só em Birigui, mas por todo interior. Aquela história ‘o interior é mais tranquilo’ não convence mais”, afirmou. 

    Além da polícia, a diretora do Sou da Paz destaca o papel que as prefeituras podem assumir na segurança pública. “Há uma rede de proteção e prevenção que não diz respeito à polícia, seja na área da saúde, da educação, da assistência social. A prefeitura pode criar mecanismos de redução de oportunidade para o crime com uma boa guarda, que não seja o ideal de uma guarda ‘rambo’, mas, sim, bem planejada e distribuída para lidar com o comércio ambulante ou atuar em lugares críticos”, diz.  

    ‘Segurança está no caminho certo’, diz secretário da PM

    O secretário executivo da Polícia Militar, coronel Álvaro Batista Camilo, disse ao Estadão que São Paulo se saiu “muito bem” na proteção do cidadão durante a pandemia. “A polícia fez um bom trabalho e se voltou para os setores que permaneceram em funcionamento no período. Quando outros setores foram reabrindo, a polícia voltou o seu planejamento para essas áreas. O trabalho da segurança está no caminho certo e a busca continua para sempre melhorar”, disse. 

    Ele celebrou a continuidade de operações e o patamar de apreensão de drogas no período, estimado em 100 toneladas ao longo dos seis primeiros meses do ano. “A criminalidade não parou e nós continuamos trabalhando forte”, reforçou. 

    Sobre as cidades que viram aumento da violência no primeiro semestre, Camilo disse se tratar de “outliers, ou soluços, como conhecemos”. “É um caso aqui ou ali que sempre há no Estado muito por razões específicas ou anormais na cidade. Vamos trabalhar com o comandante local em reuniões de análises críticas em cima do que aconteceu. Nada é esquecido”, afirmou.

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