Em queda desde 2013, o índice de homicídios dolosos registrou um crescimento de 13,5% nos municípios da Grande São Paulo em 2020
Mesmo em um contexto de isolamento social e pandemia, o ano de 2020 foi o primeiro ano desde 2012, no qual houve um aumento no número de vítimas de violência letal no estado, com um crescimento dos homicídios dolosos de 4,5% em relação ao ano de 2019. No total, foram 4.187 vítimas de letalidade violenta em São Paulo em 2020, cerca de 11 pessoas mortas por dia no estado. O aumento dos homicídios dolosos, em queda desde 2013, se concentrou principalmente nos municípios da Grande São Paulo, que registraram um crescimento de 13,5% em 2020 em comparação com o ano anterior.
Nas demais categorias de crimes violentos (roubo, roubo de veículo, extorsão mediante sequestro, latrocínio e estrupro) o ano de 2020 se destacou pela queda dos índices em relação ao ano de 2019.
Os dados constam no Boletim Sou da Paz Analisa que se debruçou sobre as estatísticas criminais do estado de São Paulo no ano de 2020. Os dados analisados são da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) e das Corregedorias das Polícias Civil e Militar do Estado.
Segundo o boletim, o ano de 2020 apresentou um aumento das taxas de vítimas de homicídios dolosos nas três macrorregiões do estado de São Paulo. Seis regiões paulistas apresentaram um aumento em suas taxas de homicídios, principalmente o Deinter 4, que abrange as cidades da região de Bauru, e o Deinter 9, que abrange as cidades da região de Piracicaba.
As maiores quedas nas taxas de homicídio ocorreram no Deinter 2, região de Campinas, e no Deinter 6, que abrange os municípios da região de Santos.
Letalidade policial
Já a letalidade policial apresentou grande variação ao longo do ano de 2020. O primeiro semestre registrou alta no número de mortes provocadas por policiais em serviço. No entanto, o segundo semestre apresentou intensa redução resultando num total anual de 39 vítimas a menos em relação ao ano de 2019.
Das 4.065 mortes violentas intencionais no estado, 844 (39 vítimas a menos que no ano de 2019), foram cometidas por policiais dentro ou fora de serviço, ou seja, uma participação de 21% das polícias na letalidade violenta do estado.
Isso significa que os policiais paulistas mataram uma média de 2,3 pessoas por dia no decorrer de todo o ano. Por um lado, houve a queda no número de pessoas mortas por policiais em serviço em São Paulo, com 51 vítimas a menos, uma redução de 6,9% em relação ao ano de 2019, que havia se destacado pela alta letalidade policial em serviço. No entanto, as Polícias Civil e Militar de São Paulo mataram fora de serviço 159 pessoas em 2020, ou seja, 12 mortes a mais que no ano anterior.
Capital
Na capital, as polícias respondem por 35% das mortes violentas intencionais da cidade de São Paulo. Em 2020, mais policiais morreram no estado de São Paulo em relação a 2019 – foram 49 em 2020 e 36 em 2019. Segundo o boletim, novamente a capital se destaca por ter sido o município onde os policiais paulistas mais morreram. Assim, o município onde a polícia mais mata é também onde ela mais morre.
“É preciso entender a dinâmica do uso da força policial na cidade de São Paulo, que concentra mais mortes praticadas por policiais e mais policiais mortos, num ano de pandemia”, ressalta Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz.
Os crimes contra o patrimônio, especialmente os roubos (outros) e roubos de veículos, tiveram sua maior redução percentual em um ano desde o início da série histórica. O crime de roubo (outros) – todos os roubos, excluídos os de veículos – teve uma redução de – 14,3% no estado como um todo, e de -24% nos municípios do interior. Os roubos de veículo tiveram uma redução ainda mais intensa, de -31% em 2020 em comparação com o ano de 2019.
Estupro
O crime de estupro apresentou forte tendência de crescimento no estado de São Paulo entre os anos de 2015 e 2019. No entanto, o ano de 2020 trouxe redução significativa de -10,9% nas ocorrências de estupro em comparação com o ano anterior.
A capital registrou 2.318 ocorrências de estupros no ano de 2020, contra 2.663 estupros registrados em 2019, ou seja, uma redução de -12,9% e a maior queda dentre as três macrorregiões do estado de São Paulo.
O relatório ressalta que esta forte redução nas ocorrências de estupro em 2020, que apresentaram franco crescimento nos anos anteriores, pode representar não uma redução do crime em si, mas de sua notificação às autoridades policiais. O isolamento social e as medidas restritivas devido a pandemia de Covid-19 possivelmente dificultaram a descoberta e notificação destes crimes.
“Chama a atenção a redução vista nos registros de estupros, uma vez que este tipo de crime apresenta forte subnotificação e até 2019 apresentou crescimento. É preciso entender como o isolamento social provocado pela pandemia gerou mais dificuldades em comunicar às autoridades a ocorrência desse tipo de crime”, comenta Carolina.
Sobre o Sou da Paz Analisa
O Instituto Sou da Paz acompanha as estatísticas criminais divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) desde 2012, a fim de contribuir para a melhor compreensão das dinâmicas criminais e atividades policiais no estado de São Paulo e em suas grandes regiões – Capital, Grande São Paulo e Interior. Além dos dados mensalmente divulgados pela SSP/SP, são consideradas informações produzidas pelas Corregedorias das Polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo publicadas no Diário Oficial e dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), fornecidos pela Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da SSP/SP e pela Polícia Civil.
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