Dados das armas recadastradas no governo Lula são retrato sobre pessoas que se armaram durante os anos de Jair Bolsonaro na Presidência
Reportagem publicada pela Metrópoles(clique para acessar o texto original)
Homens, casados, escolarizados, moradores das regiões Sul e Centro-Oeste. Este é o perfil predominante das pessoas que se armaram nos últimos quatro anos no Brasil comandado pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
O Metrópoles teve acesso, via Lei de Acesso à Informação (LAI), aos dados detalhados de recadastramento das armas de fogo no sistema da Polícia Federal (PF), o Sinarm. Veja:
O recadastramento foi exigido nos primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A medida atingiu as armas adquiridas a partir de 7 de maio de 2019, data do decreto de Bolsonaro que ampliou o acesso para civis.
Um total de 486,4 mil pessoas proprietárias de 947,9 mil armas de fogo preencheram os formulários de recadastramento, que são a base para os números apresentados nesta reportagem.
Terreno masculino
Logo de cara, chama a atenção a quase totalidade de homens entre os donos das armas. Apenas 3,6% disseram ser do gênero feminino.
Essa predominância masculina é percebida pelo pesquisador Roberto Uchôa desde 2018, quando ele começou a frequentar clubes de tiros para uma pesquisa acadêmica que originou o livro “Armas para quem? A busca por armas de fogo”.
“Você só via mulher no clube de tiro quando estava vinculada a algum homem, como esposa ou filha. Não é um ambiente em que se aceite a participação feminina independente. Apesar de ter um discurso de que a ‘arma empodera a mulher’, tem muito de ‘a arma empodera a ‘minha’ mulher’. Não é ‘aquela’ mulher, é a ‘minha’”, avalia Uchôa, membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Apesar da baixa participação de mulheres na compra de armamentos, elas também são impactadas pelo movimento. É o que explica o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani.
“O perfil das pessoas que compram as armas é um, pessoas de mais alta renda, homens, profissionais liberais e muitas carreiras ligadas ao agro. Mas quem está sofrendo o efeito desta política em geral são homens, jovens, negros. E, mais recentemente, também tem aumentado o efeito nas mulheres, que não se interessam por armas, mas sofrem as consequências do aumento das armas nas mãos dos companheiros”, avalia Langeani, também autor do livro “Arma de fogo no Brasil: gatilho da violência”.
Poder de compra
Quando o assunto é profissão das pessoas que se armaram nos últimos quatro anos se destaca o número de comerciantes, produtores rurais, engenheiros e diretores de empresas. Confira:
Sete a cada 10 proprietários de armas escolheram a opção “ensino médio completo” ou “ensino superior completo” no formulário de recadastramento.
“É o público que pode adquirir armas, que custam caro. A gente não está falando em coisa que custa R$ 2 mil. A gente está falando em armas que custam R$ 5 mil e chegam a até R$ 15 mil, dependendo da marca”, diz Roberto Uchôa, do FBSP.