“Agenda Juvenil de prevenção à violência letal contra a juventude negra”, promovida pelo Instituto Sou da Paz, lança relatório do processo que buscou dialogar sobre segurança pública e ampliar a voz da juventude
Amplificar a voz e as vivências de jovens afetados pela violência e fazer chegar propostas para a segurança pública elaboradas por eles ao conhecimento dos atores de governo. Este foi o objetivo do projeto “Agenda Juvenil de prevenção à violência letal contra a juventude negra”, promovido pelo Instituto Sou da Paz, que buscou promover o engajamento e participação de três grupos com aproximadamente 20 jovens cada, de idade entre 16 e 21 anos, nos debates sobre juventude e segurança pública no Brasil por meio de rodas de conversas, compartilhamento de vivências , poesia e música. Por meio do projeto, foi possível ampliar o conhecimento dos jovens sobre seus direitos e considerar os saberes e vivências de quem mais sofre com a violência na construção das políticas públicas.
Dessas provocações surgiram propostas para melhorar sua própria segurança pensadas e criadas pelos próprios jovens que protagonizaram o processo e que foram apresentadas e entregues para tomadores de decisão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no evento de encerramento e lançamento do relatório final do projeto, que contou com a presença de Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, a deputada estadual Marina Helou, a vice-presidente e representante do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Fabiana Zacarias e a coordenadora-auxiliar da Defensoria Pública Gabriele Estábile.
Também estiveram presentes vários jovens participantes do projeto, como Gabriel Souza, conhecido como MC GS, que estava cumprindo medida socioeducativa na Fundação Casa e de onde saiu em 2022 e foi uma das vozes que dá vida à cypher Paz na Favela, apresentada no evento. Gabriel hoje trabalha como segurança e quer seguir a carreira de MC após a participação no projeto.
“No momento que eu tava lá, apareceu essa oportunidade de enxergar o mundo diferente, sempre precisamos de um empurraozinho e o Sou da Paz foi esse empurraozinho que tivemos lá dentro. Esse projeto foi maravilhoso, nós abordamos varias situações que vivenciávamos dentro das periferias e em qualquer lugar só por sermos negro e morarmos num lugar de baixa renda, como favela e comunidade”, comenta Gabriel
Aumento dos canais de denúncia de violência policial, ampliação do uso de câmeras em uniformes, maior número de policiais femininas, humanização e responsabilidade da atuação profissional nas abordagens policiais foram algumas das propostas feitas pelos jovens participantes. Iniciado em março de 2021, a equipe do Instituto Sou da Paz acompanhou três grupos diversos de jovens, sendo um deles jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação na Fundação CASA, e os outros dois eram jovens frequentadores de outros espaços públicos existentes da zona leste e zona norte de São Paulo. Entre as propostas, também há aquelas relacionadas à necessidade do diálogo da segurança com outras políticas públicas, como escolas mais acolhedoras e conectadas às vivências dos jovens, mais oportunidades de emprego formal e mais acesso à cultura.
As três turmas escolheram diferentes temas para os encontros formativos, o que possibilitou uma maior variedade de caminhos para a abordagem da letalidade da juventude negra, no entanto, o uso excessivo da força nas abordagens policiais foi tema unânime. A pauta de gênero também foi trazida pelas meninas que puderam falar sobre a falta de segurança e assédio
“Ouvir e considerar quem mais é afetado pela violência é urgente e essencial para a construção de soluções que façam sentido e deem resultados concretos. Além disso, jovens querem participar, se engajar e opinar sobre o que os afeta”, comenta Daniele Tsuchida, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz.
O relatório possui além das propostas que compõem as Agendas, a apresentação dos métodos utilizados, as produções artísticas feitas pelos participantes e duas análises de especialistas sobre os materiais produzidos.
O projeto foi fruto de um edital de emendas parlamentares da deputada estadual Marina Helou e foi formalizado pela Secretaria de Justiça e Cidadania, por intermédio da Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena (CPPNI).
“É a partir da visão dos jovens e com os jovens que vamos criar políticas públicas de prevenção à violência letal. Mais do que assegurar que nosso trabalho esteja a serviço dessa agenda, é necessário garantir que eles possam participar na construção delas, uma vez que o impacto é direto na vida de cada um desses adolescentes”, comenta a deputada estadual Marina Helou.
Para Danielle, finalizar o projeto é uma grande satisfação. “Ele nos permitiu jogar luz sobre o que essa meninada pensa, vive e deseja para si e uma sociedade melhor. Esses jovens foram nos ensinando inúmeras coisas e amplificar essas vozes, nos reunir com autoridades e entregar formalmente o resultado desses encontros é concretizar o pleito de uma juventude que quer viver”, conclui Danielle.
Para Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, representantes do poder público precisam ouvir a produção, ler o material e se comprometer a ter um diálogo concreto com esses jovens. “A partir daí, é preciso pensar em políticas, seja para aprimorar a legislação, seja para melhorar as políticas de segurança e atuação da polícia, seja para melhorar, por exemplo, a segurança nas escola”, comenta.