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    Jovens da periferia propõem melhorias em políticas públicas para enfrentamento à letalidade contra a juventude negra

    23 de dezembro de 2022 às 04:48

    Projeto Agenda Juvenil de Prevenção à Violência Letal contra a Juventude Negra, do Instituto Sou da Paz, convida jovens à reflexão e expressão sobre prevenção em segurança pública e à reividicação dos seus direitos 

    Provocados a debater sobre segurança e a letalidade da juventude negra, um grupo de jovens moradores da região de São Mateus, na zona leste de São Paulo, criaram 11 propostas para a segurança pública como resultado de um projeto executado com o Instituto Sou da Paz. Iniciado em março de 2022, o objetivo foi engajar jovens no debate da segurança pública para a construção de estratégias de enfrentamento que auxiliem, a partir de suas vivências, a prevenir e enfrentar a violência letal contra a juventude negra. As propostas foram reunidas no documento Agenda Juvenil de Prevenção à Violência Letal contra a Juventude Negra.

    O projeto Agenda Juvenil foi realizado com três grupos de adolescentes e jovens ao longo deste ano. O primeiro, realizado em uma unidade da Fundação CASA, foi finalizado com o lançamento da produção do grupo, uma mini agenda de propostas para o poder público e uma cypher, lançados em agosto em um evento na unidade da Fundação na Vila Maria, zona norte de São Paulo.

    E, no início de dezembro, foram realizados os eventos para lançamento dos produtos dos grupos realizados nos territórios de São Mateus, na zona leste de São Paulo, e Brasilândia, na zona norte. No evento de São Mateus, realizado em 2 de dezembro, os jovens também lançaram uma agenda contendo propostas para o poder público, protagonizaram uma exposição de graffitis e declamaram poesias autorais que foram desenvolvidas durante as oficinas do projeto; e realizaram o lançamento de um vídeo documentário que mostra os resultados do processo vivido por eles, criado em parceria com a desenvolvedora de projetos audiovisuais “Causar”.

    Jovens participantes apresentando as propostas da agenda

    Aumento de canais de denúncias de violência policial, humanização e responsabilidade da atuação profissional das polícias, escolas acolhedoras e conectadas com as diversidades e melhorias na iluminação das vias públicas foram algumas das sugestões discutidas pelos jovens durante as rodas de conversas, oficinas de construções coletivas, e produções artísticas promovidas e pensadas pela equipe do projeto.

    “Foi muito importante esse espaço para falarmos sobre a letalidade de jovens, problema vivido por nós e buscar resolvê-los. Não está tudo bem e nós não podemos ficar calados”, relatou Gabriel Rodrigues, um dos participantes do projeto durante o evento de lançamento.

    Já Pâmela Rocha de Araujo, outra jovem que integrou o projeto, destaca a importância de ampliar a voz da juventude. “Foi muito especial participar de cada etapa e ver esse resultado maravilhoso que conseguimos, além do espaço pra gente conversar e procurar soluções para esses problemas que cercam a minha vida, falar e ser ouvida, e ainda melhor saber que temos chances de resolvê-los”, comenta. “Eu espero que o projeto se estenda para outros lugares para continuar a ouvir os jovens, porque nós temos muito o que dizer”..

    O evento contou com a presença dos oficineiros Randal Bone e Samuel Porfírio e de alguns  parceiros ligados ao tema como Mayara Gomes, do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência,  Antônio Carlos da Silva Barros, coordenador de Políticas para a População Negra e Indígena (CPPNI), Rosana Correa, gerente do Centro de desenvolvimento social e produtivo (CEDESP) São Lucas, e Denis Trevenzoli da Silva, representante do CEDESP Miralda, que aproveitou o evento para enfatizar a importância de lutar contra o racismo e a violência policial nas periferias: “A minha criação me ensinou que se eu fosse lutar eu teria que lutar em silêncio, mas o silêncio, como diz o Rappa, é negro”.

    Estavam presentes também a equipe do Instituto Sou da Paz responsável pela implementação da Agenda Juvenil: Danielle Tsuchida, coordenadora de projetos, e Vanessa Alves, supervisora socioeducativa.

    Agenda com jovens da Brasilândia

    A equipe do projeto, com os oficineiros Igor Chico e Tody, também realizou a exposição e divulgação dos materiais produzidos pelos participantes do ciclo realizado na Brasilândia, na semana seguinte, em 7 de dezembro. Este ciclo, realizado em parceria com o CIEJA Profa. Rose Mary Frasson, atendeu um grupo aberto ao longo de sua execução, do qual participaram diferentes alunos da instituição em função do interesse pelos temas. Por esta característica, as produções finais de grafitti e rimas, autorais e individuais, foram apresentadas em um evento cultural, projeto realizado periodicamente, pelo próprio CIEJA: “APOEMA”, aquele que enxerga longe, proposta pedagógica construída com os estudantes e a comunidade escolar. 

    Grafitis feito pelos jovens de Brasilândia

    As produções de graffitis foram organizadas na entrada do espaço, aberto, de forma a garantir aos passantes o acesso à arte. E, as rimas, apresentadas em lambe-lambe, ficarão expostas, pelos próximos meses, em dois espaços diferentes da unidade escolar.

    A realização destes dois eventos marcaram a finalização da fase dos ciclos formativos do projeto e o início da fase de organização da Agenda Juvenil final a partir das produções de cada um dos ciclos. Junto com os adolescentes e jovens que a construíram, a Agenda será apresentada no início do próximo ano a um tomador de decisão com o objetivo de levar a expressão e as vozes da juventude ao alcance de quem tem poder para fazer a diferença nas políticas públicas de prevenção à letalidade da juventude negra.

    Grafitis feito pelos jovens de Brasilândia

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