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    Gama | Qual é o seu conselho para mulheres líderes?

    27 de outubro de 2024 às 05:16

    Dedicar tempo na busca por conhecimento, trazer bons aliados para perto, ter cuidado com o corpo e com a saúde mental. Essas são algumas dicas de especialistas em carreira e coordenadoras de equipes

    Matéria publicada pela Gama Revista (clique para acessar texto original)

    Se exercer cargos de alto escalão já é difícil, para mulheres é ainda mais desafiador. Ter a autoridade questionada, sofrer com a desvalorização e a desigualdade de salários, lidar com a autocobrança excessiva e a síndrome do impostor são algumas situações que importantes figuras femininas tiveram e têm de lidar rotineiramente. Além disso, existe uma escassez de oportunidades. Quantas CEOs mulheres você conhece?

    Para quem pensa em liderar uma grande empresa ou apenas gostaria de marcar o seu valor profissional na sua área de atuação, confira os conselhos das mulheres consultadas por Gama:

    “Nunca perca as suas raízes e as redes de apoio que te ajudam a se manter livre e em pé”

    Luanda Vieira, 35, jornalista e apresentadora do podcast “O Corre Delas”

    “Conversando sobre carreira semanalmente com tantas mulheres diferentes, em ‘O Corre Delas’, aprendi que apesar do reconhecimento de uma trajetória brilhante, a liderança também pode ser um lugar solitário. Por isso, desejo que você, mulher líder, nunca perca as suas raízes e as redes de apoio que te ajudam a se manter livre e em pé, sejam elas pessoas ou produtos culturais produzidos por mulheres. Depois, invista em autoconhecimento e saiba se apresentar sem dizer o que você faz como ofício, mas com o que te dá prazer na vida para que, se possível, não cair na ilusão de que você é o seu cargo.” (depoimento a Ana Elisa Faria)

    “Enquanto cuida e apoia outras pessoas, também é fundamental cuidar de si”

    Gabriela Augusto, 31, palestrante, fundadora e diretora da consultoria Transcendemos, que promove diversidade e inclusão nas empresas

    “Meu principal conselho para mulheres líderes é lembrar que, enquanto cuidam e apoiam outras pessoas, também é fundamental cuidarem de si mesmas. Liderar envolve inspirar e promover outras mulheres, criando redes de apoio e oportunidades, mas isso não pode acontecer à custa de seu próprio bem-estar. Priorizar a saúde mental, seus objetivos pessoais e manter o equilíbrio entre o profissional e o pessoal são essenciais para uma liderança sustentável e autêntica.” (depoimento a Leonardo Neiva)

    “Veja no exercício da liderança uma oportunidade para ser você mesma”

    Marina Bragante, 45, psicóloga, professora da FGV, primeira vereadora da Rede Sustentabilidade eleita em São Paulo e fundadora da Bancada do Clima

    “Não teria um conselho só, mas um conjunto de sugestões e pontos de atenção. Nós mulheres normalmente tomamos decisões considerando não só o ambiente interno, mas também nos preocupamos com a sustentabilidade e a diversidade, considerando os impactos socioambientais de nossas açõe, e se essa perspectiva é cada vez mais urgente e importante para nossa sociedade. A sustentabilidade deve estar presente não só na relação com o meio ambiente, mas com certeza no cuidado com você também! Não se perca de vista. Esteja próxima de pessoas que te amam, te incentivam e te acolhem. Veja no exercício da liderança uma oportunidade para ser você mesma. Acredite no seu potencial, seja gentil consigo e ocupe os espaços!” (depoimento a Leonardo Neiva)

    “Você precisa entender qual é a sua ideia de sucesso”

    Dani Arrais, 41, jornalista, escritora e cofundadora da Contente.vc

    “Até se conhecer mais, você pode acabar sendo uma personagem de líder, e não a líder que realmente quer ser e que consegue entregar valor para o trabalho, para os outros e para o mundo. O ensinamento mais valioso que aprendi nos últimos anos é que é preciso entender  sua ideia de sucesso. O mercado vai te vender a ideia de que você precisa crescer exponencialmente, contratar muita gente, pois isso seria sinônimo de uma empresa saudável, inclusive financeiramente. Afinal, quando você diz que sua empresa tem muitos funcionários, a percepção é de que ‘uau, tá dando tudo certo’, né? Estivemos nesse lugar por um tempo, até nos darmos conta de que crescer dessa forma acabou nos afastando um pouco daquilo em que somos excelentes. Precisei de muitas conversas e de um bom mergulho de autoconhecimento pra dizer: quero uma empresa mais enxuta, com eventuais colaboradores que possam fazer um trabalho mais horizontal com a gente. Então, minha sugestão é: por mais que te digam o que você deve fazer, que te vendam uma ideia do que significa sucesso, só você sabe o que vai te fazer bem, o que vai fazer sentido. E quando a gente faz aquilo que tem excelência, o negócio prospera muito mais. A gente vira uma líder melhor, porque está com o foco certo, sabe o que quer fazer e consegue ajudar no desenvolvimento das habilidades de outras pessoas também.” (depoimento a Amauri Terto)

    “Queremos mostrar que está tudo bem o tempo todo, e não é verdade. Nunca está tudo bem o tempo todo”

    Carolina Ricardo, 47, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz

    “É muito importante que a gente, no papel de liderança — sobretudo nós, mulheres —, saiba ter conversas difíceis e consiga colocar os problemas na mesa. Porque não é trivial. Eu percebo que ao ser uma liderança capaz de conversar e dizer, por exemplo, no meu caso, a um comandante que estou preocupada com o problema XYZ da polícia que ele comanda, isso gera uma credibilidade e uma legitimidade importantes. A mesma coisa em relação à equipe ou a financiadores. Às vezes temos de tomar decisões difíceis. E é essencial apresentar os problemas com antecedência, com cuidado e transparência, explicando por que está ruim, mostrando que você pensou naquilo e está disposta a achar um caminho, e não deixar que o problema estoure lá na frente. Sempre queremos mostrar que está tudo bem o tempo todo, e não é verdade. Nunca está tudo bem o tempo todo. Para as mulheres, é mais difícil, somos mais cobradas, precisamos nos desdobrar 50 vezes mais. No ramo da segurança pública, então, mais ainda. Esse conceito me ajudou muito a chegar onde eu cheguei, a conseguir conquistar os parceiros que conquistei, a conseguir ter uma equipe que confia no meu trabalho como liderança, que confia no meu trabalho na instituição que eu lidero.” (depoimento a Ana Elisa Faria)

    “Gaste tempo com as pessoas, ouça, dê espaço, promova situações de troca, faça-se acessível na medida certa”

    Bruna Fioreti, 42, especialista em branding pessoal e carreira feminina, jornalista com 20 anos de experiência em grandes redações

    “Cercar-se de aliados é um dos conselhos que dou e que gostaria de ter recebido quando ocupei cargos de liderança nos últimos 20 anos. A mulher líder é uma profissional duplamente visada: por cargo e gênero está mais sujeita a antipatias de colegas e funcionários, a desafios para aprovação de projetos, a uma sorte de vieses por vezes sutis, mas via de regra presentes nas corporações. Muitas vezes, a tendência dela é se isolar. O topo pode ser solitário, com pouca margem a confiança e troca para a tomada de decisões. O problema é que se encolher só reforça os desafios de gênero, então o ideal seria combater essa tendência, angariando aliados e aliadas, com o máximo de diversidade de posições, históricos de vida e perfis profissionais possível. Usar habilidades como escuta ativa e boa delegação de tarefas contribui para agregar o time, porém essa capacidade de conexão precisa ser feita e mostrada, precisa ser propagada para a construção de uma imagem consistente, como parte de uma boa estratégia de branding pessoal. Funciona bem a imagem de uma líder bem conectada, respeitada, agregadora. Portanto, gaste tempo com as pessoas, ouça, dê espaço, promova situações de troca, faça-se acessível na medida certa. Isso é um trabalho de formiguinha paralelo às entregas em si, algo que constrói uma imagem de liderança positiva e blinda a mulher em posição de poder, já que mostra que ela não está sozinha, que tem escudos, parceiros, que joga junto — como de fato deve ser.” (depoimento a Sarah Kelly)

    “Tem desafios, soluções, caminhos, problemas que só mulheres que lideram operações entendem”

    Lela Brandão, 30, empresária e apresentadora do podcast “Gostosas também choram”

    “O conselho que eu tenho para mulheres em posições de liderança é o que que eu gostaria de ter ouvido e aplicado muito antes na minha carreira. É uma coisa que eu faço constantemente, pelo menos toda semana, que é conversar com outras mulheres em posições de liderança. Tem desafios, soluções, caminhos, problemas que só mulheres que lideram operações entendem. Mesmo se você tentar conversar com homens em posições de liderança, são desafios completamente diferentes. Quebre essa barreira de chamar uma mulher para conversar, pedir ajuda, oferecer ajuda… Às vezes nem pedir algo em específico, uma opção é chamar para um café ou alguma coisa assim, para trocar experiências. Frequentemente mulheres líderes apontam caminhos e me salvam de ciladas. A conversa entre mulheres nessas posições é muito estruturadora, organizadora e revolucionária.” (depoimento a Sarah Kelly)

    “Permita-se, ouça sua intuição e se autoconvide, mesmo quando não se sentir convidada”

    Luana Génot, 35, diretora executiva e fundadora do Instituto Identidades do Brasil

    “O primeiro conselho de todos é: se permita errar no processo. Não se compare. Cada história é única, você vai construir a sua própria trajetória, com as suas vivências e aprendizados. E cada um deles vai te ajudar em situações de liderança. Uma segunda dica é: faça conexões! Você não precisa dar conta de tudo sozinha e as conexões nos ajudam a ir mais longe. Construa sua rede de apoio. Seja essa rede um time para quem pode delegar tarefas e atribuições; ou pessoas da sua área de atuação com quem possa trocar ideias. Uma terceira seria: reserve tempo para você e sua saúde mental, conexão com a sua fé, família e coisas que te fazem bem para além do trabalho. E outra seria: permita-se, ouça sua intuição e se autoconvide, mesmo quando não se sentir convidada. Às vezes, esperamos convites chegarem, mas muitas vezes o que precisamos é não pedir permissão e simplesmente ir e empurrar a porta.” (depoimento a Amauri Terto)

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