Dados obtidos pela TV Globo, via Lei de Acesso à Informação, mostram que ocorrências passaram de 24 em 2019 para 205 em 2022. Maioria dos envolvidos é homem com idade entre 36 e 40 anos.
Reportagem publicada pelo G1 (clique para acessar o texto original)
O número de ocorrências policiais envolvendo colecionadores, atiradores e caçadores (CACs) cresceu 754% em 2022, no Distrito Federal. Elas passaram de 24 ocorrências em 2019 para 205.
Os dados foram obtidos pela TV Globo via Lei de Acesso à Informação. De acordo com o levantamento, as ocorrências registradas de acordo com a lei Maria da Penha foram uma das que mais aumentaram: de quatro em 2019 para 48 em 2022.
O número de ocorrências de ameaças saltou de 7, em 2019, para 65 no ano passado. Os dados também traçam um perfil dos autores:
- A maioria das ocorrências foi registrada contra homens
- Dos 207 CACs autores de crimes, 204 eram homens com idade de 36 a 40 anos
Para Cassio Thyone, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a flexibilização nas leis para uso de armas é responsável por esse aumento de ocorrências.
“Nós prevíamos que alguns tipos de ocorrências iriam sofrer um acréscimo, tais como ameaças, como violência contra a mulher, como brigas de trânsito. Então, esses números vêm comprovar aquilo que a gente já esperava: um maior acesso às armas de fogo, um maior número de ocorrências que as envolvem ou que indiretamente as utilizem como nos casos das ameaças”, diz Thyone.
Além disso, o número de ocorrências de porte e posse de arma de fogo também aumentou. Em 2019 foram registradas 13 ocorrências no Distrito Federal. Em 2022, foram 114.
De acordo com Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz, isso ocorre por conta de uma brecha na legislação.
“Há uma brecha importante que, a pretexto de praticar o tiro, as pessoas passaram a comprar arma pra portar essa arma e usar essa arma pra defesa pessoal, o que é uma finalidade equivocada, você tá subvertendo o sentido da lei”, aponta Carolina.
De acordo com ela, muitas pessoas que se cadastram como CAC dizendo que vão praticar tiro, “na verdade querem ter uma arma pra se defender e andar armadas”.
Vítimas de tentativa de feminicídio
Izabel Aparecida de Sousa, de 37 anos, foi uma das vítimas de feminicídio deste ano em Brasília. Ela morreu em fevereiro passado, após ser baleada na cabeça pelo ex-marido, na frente da filha do casal, de 8 anos.
Paulo Roberto Moreira Soares, o autor dos tiros, se entregou à Polícia Civil.
Ele tinha registro de CAC e possuia uma arma em casa.
Para a família de Izabel, mesmo com a documentação, o homem não estava preparado psicologicamente para ter uma arma.
“Ele tinha esse sentimento de posse, essa possessão das outras pessoas, e ele se sentia com muita autoridade. Ele pegava a arma, colocava a arma na cintura e ele achava que poderia fazer tudo com todas as pessoas”, conta Érika Tayná, sobrinha da Izabel.
Érika lembra que Izabel era o pilar da família e que, desde o crime, todos tentam se reerguer. Agora, o que resta para a família, é lutar por justiça.
“A gente espera que seja feita justiça. A gente espera que ele não saia impune. E a gente espera que sejam adotadas medidas por parte do governo, políticas públicas para que não aconteça isso repetidas vezes, que esse número não cresça, não aumente do jeito que está, porque ninguém mais merece passar pelo que a gente tá passando”, diz sobrinha da vítima.
Medidas
Em fevereiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública abriu prazo de 60 dias para que proprietários de armas registrem os armamentos no Sistema Nacional de Armas, gerenciado pela Polícia Federal.
O objetivo do governo é concentrar todos os registros de armas em posse da população no sistema. Atualmente, o arsenal de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) é controlado e registrado pelo Exército.