Há discrepâncias de informação em pedidos iguais sobre desvios de armas em quartéis das Forças Armadas
Completa três meses na próxima semana o caso que chamou a atenção para o baixo controle do Exército sobre seu inventário de armas, o furto de 21 metralhadoras de guerra em um quartel de Barueri só foi notado pelo comando da Unidade mais de um mês depois do ocorrido.
E um recente pedido via Lei de Acesso à Informação ao Exército sobre armas desviadas de quartéis evidencia a falta de controle dos arsenais militares. O Instituto Sou da Paz encontrou discrepâncias de informação já que pedidos iguais sobre desvios de armas foram respondidos de formas distintas pelo Exército Brasileiro.
No pedido mais recente, o Exército informou que havia registrado desvios (furto, roubo ou extravio) de 198 armas de seus arsenais entre 2010-2023, sendo que 74 delas não foram recuperadas. Em relação ao tipo de armas, 53% são fuzis (39 armas), 40% são pistolas (30 armas), 4% espingardas (3 armas) e, agora, 2 metralhadoras .50 do roubo do Arsenal de Guerra de Barueri que ainda se encontram com os criminosos, em um desvio que completará 3 meses no dia 07 de dezembro.
Em 2020, o Instituto Sou da Paz havia feito o mesmo pedido para o período de 2015-2020, e as variações são grandes. No levantamento anterior, por exemplo, o Exército havia informado 8 armas perdidas em 2016. Já no levantamento atual indicou 23 armas (uma diferença de 187%). No ano de 2019, a primeira resposta indicava apenas 4 armas perdidas, e agora apontou 10 (uma diferença de 150%). Além disso, houve uma piora na qualidade da desagregação do dado, pois em 2020 o Exército conseguiu extrair o número de desvios por Unidade da Federação (UF), agora diz conseguir apenas extrair dados por Região Militar, que em muitos casos reúnem mais de uma UF.
“Quatro em cada dez armas que foram desviadas pelo Exército não foram recuperadas, segundo o último dado fornecido. Para além da gravidade destes desvios, considerando que a maior parte deles são de fuzis, ainda há uma forte insegurança sobre a qualidade do dado fornecido, o que aponta para uma falha grave de controle de arsenais por parte do Exército Brasileiro”, analisa Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Confira o comparativo dos pedidos feitos ao Exército:
Fonte: Instituto Sou da Paz
Dados do novo pedido
Neste ano, o Instituto Sou da Paz realizou um novo pedido via LAI sobre os desvios de armamentos do Exército ocorridos entre 2010 e 2023. Confira a nova resposta da instituição.
Armas não recuperadas pelo Exército por tipo:
| Tipo | Quantidade |
|---|---|
| Fuzil | 38 |
| Pistola | 30 |
| Espingarda | 3 |
| Metralhadora | 2 |
| Fuzil/Metralhadora | 1 |
| Total Geral | 74 |
Total de armas do Exército Brasileiro desviadas por ano (recuperadas ou não):
| Ano | Quantidade |
|---|---|
| 2010 | 28 |
| 2011 | 16 |
| 2012 | 12 |
| 2013 | 6 |
| 2014 | 25 |
| 2015 | 8 |
| 2016 | 23 |
| 2017 | 5 |
| 2018 | 9 |
| 2019 | 10 |
| 2020 | 6 |
| 2021 | 5 |
| 2022 | 18 |
| 2023 | 27 |
| Total Geral | 198 |
