Os eleitores brasileiros não querem votar em candidatos que aceitam financiamento da indústria de armas. Foi o que mostrou pesquisa encomendada pela ONG Aliança de Controle do Tabagismo e Saúde e realizada pelo Instituto Datafolha. Segundo o levantamento, 92% dos eleitores não votariam em candidatos financiados pela indústria de armas, seguido dos setores de tabaco e álcool (87% cada), agrotóxicos (82%), bancos (58%) e automóveis (53%).
A pesquisa consultou 2.013 eleitores em 135 municípios no mês de agosto e revelou que os grupos que mais repudiam o voto em candidatos financiados pela indústria de armas são as mulheres, os mais velhos, os menos escolarizados e os mais pobres. Em relação às regiões, o Sudeste e o Nordeste são aquelas que se demostraram menos favoráveis ao voto em candidatos que recebem recursos da indústria de armas. A pesquisa ainda mostrou que, quanto mais informado o eleitor se diz, menor sua propensão de apoiar esses candidatos ligados à indústria de armas.
De acordo com a análise publicada pelo Sou da Paz em setembro, a indústria armamentista ajudou a eleger 32 senadores e deputados federais nas eleições de 2010, com um total de 1,5 milhão de reais em doações.
Nesta eleição de 2014, já são conhecidos 8 candidatos que receberam R$ 495 mil da indústria armamentista, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 6 desses nomes irão compor a chamada “bancada da bala” na Câmara Federal a partir de 2015. São eles:
- Alceu Moreira: deputado federal (PMDB/RS), também financiado em 2010;
- Fábio de almeida Reis: deputado federal (PMDB/SE), financiado pela 1ª vez;
- José Wilson Santiago Filho: deputado federal (PTB/PB), financiado pela 1ª vez;
- Onyx Lorenzoni: deputado federal (DEM/RS), também financiado em 2010;
- Efraim Filho: deputado federal (DEM/PB), financiado pela 1ª vez;
- Darci Pompeo de Mattos: deputado federal (PDT/RS), financiado pela 1ª vez.
O candidato a deputado estadual de Santa Catarina, Aldo Schneider (PMDB/SC), também foi eleito. Enquanto o candidato a governador de São Paulo, Paulo Skaf (PMDB/SP), foi o único a ficar de fora da corrida eleitoral.
A “bancada da bala” no Congresso Nacional em 2015 certamente será maior do que a apresentada acima, mas essas informações só poderão ser acessadas após a divulgação final dos financiamentos de campanha realizada pelo TSE.
Para Marcello Baird, coordenador de advocacy do Instituto Sou da Paz, “a legislação eleitoral brasileira reduz a transparência das eleições e prejudica o eleitor, que não tem condições de obter todas as informações relevantes para o voto, como o financiamento das campanhas, antes das eleições”.
A pesquisa do Datafolha corrobora essas informações, pois revela que 70% dos brasileiros não se julgam informados a respeito das doações eleitorais. No entanto, 79% dos entrevistados reconhecem a importância de saber, antes das eleições, quem doa dinheiro às campanhas.