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    NOTÍCIAS

    DEBATE IDEOLOGIZADO INVIABILIZA A ANÁLISE DE PROPOSTA FUNDAMENTAL PARA A SEGURANÇA PÚBLICA

    10 de outubro de 2024 às 02:32

    Instituto Sou da Paz repudia o comportamento de parlamentares durante a sessão da
    Comissão de Segurança Pública da Câmara (CSPCCO) que debateu o PL 10.026/2018

    Na última quinta-feira (8), durante reunião da Comissão de Segurança Pública e
    Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados (CSPCCO), o Deputado Ivan
    Valente apresentou o Projeto de Lei (PL) 10.026/2018 que prevê o estabelecimento de um
    Indicador Nacional de Esclarecimento de Homicídios. Infelizmente, a desinformação e
    deturpação do projeto foi o foco das argumentações dos parlamentares presentes na
    sessão, alguns parlamentares afirmaram nem terem lido o projeto, bastando identificar a
    autoria para rejeitá-lo.


    É temeroso que uma comissão tão cara à população tenha se apequenado ao ponto
    de deturpar o projeto, reduzindo-o às afirmações infundadas de que o projeto disporia sobre
    divulgação de informações sigilosas dos inquéritos. A qualidade do debate sobre o PL
    mostra uma Comissão ideologizada sem nenhum compromisso com políticas de segurança
    pública sérias, baseadas em dados e evidências, capazes de reduzir o medo e violência
    sofridos pela população.


    O PL determina que a União deve divulgar um relatório “composto pelos dados
    consolidados em cada ente da federação e que demonstrem a evolução das denúncias
    oferecidas e julgamentos realizados das ocorrências de homicídios e crimes violentos letais
    intencionais, separados por ano de prática dos respectivos crimes”. O projeto é bem
    estruturado e traz determinações fundamentais para o detalhamento de informações destes
    crimes, como a cor da pele, idade e gênero da vítima. Além disso, a proposta estabelece
    que os Estados devem detalhar informações sobre a atuação da polícia, do Judiciário e do
    Ministério Público (MP), ainda que a padronização das informações exigidas ao MP e ao
    Judiciário deve ser regulamentada por seus respectivos conselhos.


    Estudo realizado pelo Instituto Sou da Paz mostra que a taxa nacional de
    elucidação de homicídios em 2021 foi de apenas 35%, ou seja, 65% dos homicídios
    não obteve um desfecho, seja para a justiça ou para os familiares. Existem estados,
    como o Rio Grande do Norte em que, no ano de 2021, apenas 9% dos homicídios dolosos
    foram esclarecidos.

    A forma como os parlamentares se comportaram frente a esse importante assunto
    não se trata, portanto, de um mero mal entendido, mas o modo como os parlamentares

    têm-se comunicado com suas bases, reduzindo tudo o que não for proposta do seu espectro
    político como “defesa de bandido”. O PL 10.026/2018, além de não representar nenhum
    espectro político, busca, ao contrário, responsabilizar os que cometeram homicídio doloso
    pelo seus crimes, bem como o próprio estado brasileiro pela baixa elucidação desse tipo de
    crime, no sentido de melhorar a sua estrutura de processamento, em articulação com as
    polícias judiciárias e técnico-científicas, Ministério Público e Poder Judiciário. Trata-se de
    uma proposta técnica e séria no campo da segurança pública.


    A criação de um parâmetro nacional para mensurar o esclarecimento desses crimes
    é um passo fundamental para avaliação objetiva da capacidade do Estado em oferecer à
    sociedade respostas adequadas frente à violência letal e para que cada uma das instituições
    que compõem o sistema de justiça criminal possa adequar sua atuação para melhor cumprir
    o papel que lhe cabe na persecução penal.


    Parlamentares que se apresentam como defensores das polícias parecem
    desconhecer que a mensuração da elucidação de homicídios é amplamente reconhecida
    por polícias civis de diferentes unidades federativas, que já possuem indicadores próprios,
    publicados em transparência ativa e, por vezes, relacionados ao estabelecimento de metas
    para a melhoria dos serviços prestados à população. Também não interessa a eles saber
    que instâncias colegiadas que reúnem gestores das polícias civis têm conduzido ativamente
    o debate sobre a padronização de uma metodologia de mensuração da elucidação de
    homicídios em âmbito nacional, o que resultou na edição da Resolução CONCPC nº
    06/2018 e, mais recentemente, na Nota Técnica CNDH nº 01/2023, elaborada pelo Comitê
    Nacional de Diretores dos Departamentos de Homicídio e Proteção à Pessoa.


    Para além do mérito do PL, ainda que sobrevenham discordâncias e divergências de
    espectro ideológico, a sociedade merece um bom, honesto e qualificado debate sobre as
    propostas discutidas na Câmara dos Deputados, respeitando o rito democrático e os
    interlocutores envolvidos, o que não ocorreu na última sessão da CSPCCO, marcada por
    ofensas e desrespeito de parte dos parlamentares em relação ao deputado Ivan Valente,
    autor do projeto de lei, a quem deixamos nossa solidariedade.


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