Mapeamento revela que os massacres aumentaram em número e letalidade desde 2019
Depois de mais um triste ataque, ocorrido no dia 19 de junho no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, o Instituto Sou da Paz se solidariza com os parentes, amigos dos estudantes e vítimas, além de toda comunidade escolar, e atualiza o estudo Raio-x de 20 anos de ataques a escolas no Brasil. Agora, desde 2002 são contabilizados 25 casos que deixaram 139 vítimas: 46 fatais e 93 não fatais. Armas de fogo foram usadas em 48% dos casos e causaram 76% das vítimas fatais. Os números revelam o caráter ainda mais destrutivo dos massacres com uso de armas de fogo: os ataques a tiros geraram três vezes mais vítimas fatais do que as ocorrências com armas cortantes ou perfurantes.
“O estudo mostra que a disponibilidade de armas em residências favorece esse tipo de crime e aumenta a letalidade, colocando em evidência o quão crucial é o controle do acesso e do armazenamento dessas armas para redução da letalidade destes eventos, já que ferimentos com armas brancas e de pressão são menos graves e têm mais chances de defesa, socorro e recuperação da vítima“, diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
80% das armas de fogo usadas se enquadram nas categorias que, até maio de 2019, eram de uso permitido a civis. Foram usadas também três pistolas .40, que antes de 2019 eram de uso restrito. Destas, duas eram de propriedade de parentes que trabalhavam nas forças de segurança e uma delas era registrada por um CAC (Sobral-CE).
O ano de 2023 já é o que registra mais episódios, com 7 ataques, seguido por 2022, com 6 e 2019, com três casos. Foi em 2019 que começou a tendência de alta dos ataques, mesmo ano em que iniciou a flexibilização do acesso às armas promovida pelo governo Bolsonaro.
O grupo de agressores é formado exclusivamente por meninos e homens, reforçando um fenômeno ligado ao universo masculino. A maior parcela é de alunos (57%) e ex-alunos (36%). Em pelo menos dois casos, o agressor estava há meses sem ir às aulas e nenhuma providência de busca ativa – considerada um fator de proteção – foi feita, o que contribui para o isolamento e radicalização desses estudantes ao ficarem longe do ambiente escolar.
Em pelo menos 20 casos houve o planejamento por semanas ou meses. No ataque em Cambé, a polícia encontrou com o agressor anotações sobre ataques em escolas, incluindo o de Suzano, em São Paulo. Este diagnóstico reforça tanto um diálogo entre os casos e os autores, como reforça que há um prazo hábil para que funcionários, professores, alunos e pais possam notar mudanças de comportamento ou até atos preparatórios e consigam tomar medidas para intervir precocemente e prevenir os ataques. Por isso, é necessário estruturar e preparar a comunidade escolar para identificar os sinais antes dos ataques e agir com eficácia.
Treze unidades da federação tiveram ataques e somente o estado de São Paulo registrou mais do que dois. Na divisão entre cidades, apenas o Rio de Janeiro teve mais de um caso. Em termos regionais, o Sudeste, seguido por Nordeste em empate com o Sul, depois Centro-Oeste e a região Norte.
Algumas recomendações para coibir novos ataques
No estudo, o Instituto Sou da Paz traz algumas recomendações para a prevenção de novos casos com foco em diferentes atores, principalmente órgãos de segurança e educação, como:
– Corresponsabilização de plataformas digitais.
– Criação de equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva.
– Fortalecimento da ronda escolar, fortalecimento de vínculos entre a direção da escola e batalhões locais.
– Treinamento e estabelecimento de protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas.
– Estabelecimento de programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de
mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores com mais estas atribuições.
-Treinamento de professores e funcionários para que consigam identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar.
– Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico.
– Endurecimento do controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores.
– Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados de um responsável.
O estudo completo, sem esta atualização, você encontra aqui.