Só em 2022, civis compraram mais armas do que em 2018, 2019 e 2020 somados
A quantidade de armas em acervos particulares no país, ou seja, não institucionais de órgãos públicos, se aproxima de 3 milhões, segundo dados colhidos por meio da Lei de Acesso à Informação e analisados pelo Instituto Sou da Paz e Instituto Igarapé. Nessa conta, consideramos as armas pessoais ou particulares pertencentes a:
- Caçadores, atiradores desportivos e colecionadores (CACs);
- Cidadãos comuns com registro para defesa pessoal;
- Caçadores de subsistência;
- Servidores civis (como policiais e guardas civis) com prerrogativa de porte e que compraram armas para uso pessoal;
- Membros de instituições militares (policiais militares, bombeiros militares e etc) que compraram armas para uso pessoal.
Esse acervo mais do que dobrou quando comparado com o existente em 2018, que era de apenas 1,3 milhão de armas (tabela e gráfico 1). Esse aumento rápido é preocupante pelas diversas pesquisas que relacionam a maior disponibilidade de armas com aumento da violência, em especial quando estão nas mãos de particulares e não são submetidas aos controles existentes, por exemplo, em Corregedorias e Ouvidorias.
Tabela 1 – Acervo particular de armas no Brasil em números absolutos | |||||
ano | Armas particulares de militares | Defesa pessoal junto à PF** | CACs | Total | |
2018 | 625.510 | 344.389 | 350.683 | 1.320.582 | |
2019 | 618.513 | 457.700 | 433.246 | 1.509.459 | |
2020 | 604.408 | 642.917 | 569.748 | 1.817.073 | |
2021 | 739.094 | 810.830 | 794.958 | 2.344.882 | |
2022* | 728.287 | 976.152 | 1.261.000 | 2.965.439 |
*dado inclui: armas particulares de membros da FFAA referente a 2021 (não foi atualizado pelo EB) + dado das armas particulares de policiais e bombeiros militares referente a 2022.
** dado inclui armas registradas por pessoas comuns para defesa pessoal, armas particulares de servidores civis com prerrogativa e armas de caçadores de subsistência
Gráfico 1
*dado inclui: armas particulares de membros da FFAA referente a 2021 (não foi atualizado pelo EB) + dado das armas particulares de policiais e bombeiros militares referente a 2022.
Além do aumento na quantidade, chama atenção a mudança de perfil desses registros (tabela e gráfico 2). Em 2018, quase metade do acervo de armas pessoais então existente pertencia a membros de instituições militares (47%). O restante do acervo particular era praticamente dividido entre os registros na Polícia Federal (de armas pertencentes a servidores civis, cidadãos comuns com registro para defesa pessoal e caçadores de subsistência – com 26%) e registros pertencentes a CACs (27%). Ao longo dos últimos quatro anos, essa proporção se inverteu com o crescimento da categoria de CACs, que passou a ter 42,5% do total de armas particulares no país, em 2022. Este é um efeito imediato do descontrole promovido pelos mais de 40 atos infralegais – decretos, portarias e instruções normativas – publicados entre 2019 e 2022, quase todos regredindo em controles até então vigentes. Os CACs foram a categoria mais beneficiada por essas mudanças, como a facilitação do porte municiado, o acesso a armas mais potentes e em grande quantidade, como se vê na página a seguir.
Tabela 2 – Acervo particular de armas no Brasil em percentual de participação de cada categoria | |||||
Ano | Armas particulares de militares | Defesa pessoal junto à PF** | CACs | Total | |
2018 | 47% | 26,1% | 26,6% | 100% | |
2019 | 41% | 30,3% | 28,7% | 100% | |
2020 | 33% | 35,4% | 31,4% | 100% | |
2021 | 32% | 34,6% | 33,9% | 100% | |
2022* | 25% | 32,9% | 42,5% | 100% | |
*dado inclui: armas particulares de membros da FFAA em 2021 (não foi atualizado pelo EB) + armas particulares de policiais e bombeiros militares em 2022 |
** dado inclui armas registradas por pessoas comuns para defesa pessoal, armas particulares de servidores civis com prerrogativa e armas de caçadores de subsistência
Gráfico 2 |
*dado inclui: armas particulares de membros da FFAA referente a 2021 (não foi atualizado pelo EB) + dado das armas particulares de policiais e bombeiros militares referente a 2022
Quando analisamos a quantidade de armas compradas por ano (tabela 3), vemos que a categoria dos CACs tinha um ritmo de compra muito mais lento no ano de 2018, com apenas 59 mil novas armas adquiridas. A partir de 2019, as compras dessa categoria se intensificam rapidamente. No ano de 2022, vemos o ápice com mais de 430 mil novas armas compradas por esse grupo, volume maior do que o que fora adquirido entre 2018 e 2020, e mais de sete vezes maior do que a quantidade adquirida em 2018. Essa altíssima velocidade de compra se contrapõe à capacidade estatal de verificar essas solicitações apropriadamente e fiscalizar esse mercado que impacta diretamente na segurança pública.
Tabela 3 – Armas novas compradas por ano | |||
ano | Defesa pessoal junto à PF* | CACs | Total |
2018 | 35.758 | 59.417 | 95.125 |
2019 | 62.025 | 78.048 | 140.073 |
2020 | 142.857 | 125.306 | 268.163 |
2021 | 172.242 | 223.894 | 393.136 |
2022 | 122.242 | 431.137 | 553.379 |
Total | 535.124 | 917.802 | 1.452.926 |
* dado inclui armas registradas por pessoas comuns para defesa pessoal, armas particulares de servidores civis com prerrogativa e armas de caçadores de subsistência
Informações para a imprensa:
Instituto Sou da Paz: imprensa@soudapaz.org
Instituto Igarapé: press@igarape.org.br