Por Renata Bitar, Lívia Machado e Kleber Tomaz (acesse o texto original pelo G1)
Anúncio foi feito nesta terça (10) durante evento na Rota e em meio à onda de assaltos no estado. Pagamento será feito em 23 de maio para agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil que atingiram produtividade estabelecida para os quatro primeiros meses do ano passado.
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), anunciou nesta terça-feira (10) o pagamento de bônus para policiais militares e civis. O governo paulista deverá liberar em 23 de maio uma verba de R$ 176 milhões aos agentes por metas de produtividade policial cumpridas entre janeiro a fevereiro de 2021 no estado.
“Também é uma oportunidade pra que, em nome do governo, eu possa anunciar o pagamento dos bônus dos policiais de São Paulo, que será pago agora no dia 23 de maio. Todos conhecem a política de bonificação que o estado tem, os bônus têm vínculo com os resultados da [Secretaria da ] Segurança Pública”, falou Garcia durante coletiva de imprensa na sede das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), da Polícia Militar (PM), na capital paulista.
O governador foi ao evento para o lançamento da medalha da Rota, alusiva aos 50 anos do batalhão. Em seu discurso, Garcia, que é pré-candidato pelo PSDB às eleições deste ano para a escolha do novo governador de São Paulo, informou que os agentes alcançaram os resultados esperados.
“E ao longo de 2021 nós tivemos uma série de resultados alcançados e agora com a condição econômica de São Paulo, a gente vai fazer o pagamento de bônus dos dois primeiros bimestres do ano de 21, totalizando 176 milhões de reais, ele será pago agora para todos os policiais que alcançaram suas metas no dia 23 de maio”, afirmou o governador.
A bonificação aos policiais não é nova. Já foi criada há alguns anos e se baseia em metas estabelecidas para cada batalhão ou departamento policiais.
Sindicato critica governador por anúncio
Presidente do sindicato Raquel Kobashi Gallinati — Foto: Reprodução/TV TEM
Por meio de nota, o Sindicato dos Delegados de Policia de São Paulo (Sindpesp) criticou o governador pela maneira como divulgou o repasse do bônus aos policiais do estado. Segundo a categoria, Garcia “anuncia pagamento de atrasados como se fosse bondade”.
“Esse dinheiro é de um bônus que deveria ter sido pago no primeiro semestre de 2021. Ao invés de anunciar como um favor, o governador deveria estar pedindo desculpas por cumprir sua obrigação com quase um ano de atraso”, avalia a presidente do sindicato, a delegada Raquel Kobashi Gallinati.
Para a delegada Raquel, o anúncio, mais uma vez, tem um claro viés eleitoreiro. “As polícias foram massacradas durante três anos pelos eleitos em 2018 e agora, seis meses antes de uma nova eleição, a Segurança Pública vira prioridade em um passe de mágica. Não adianta tentar usar a segurança como ferramenta de marketing. Os policiais não caem mais. A população não cai mais.”
“O governo paga bônus com um ano de atraso e anuncia como uma vitória. Obriga o policial a trabalhar na folga e diz que a segurança vai aumentar. Muito marketing para pouco trabalho que realmente melhore a Segurança Pública, como salários dignos, estrutura e contratação de policiais”, afirmou a presidente do Sindpesp.
Governo enfrenta onda de assaltos
O anúncio de Garcia ocorre em meio a uma onda de assaltos, principalmente àqueles cometidos por falsos entregadores e que foram registrados por câmeras de segurança no estado. Mais recentemente, vídeos mostraram o momento que Renan Loureiro foi morto a tiros por um assaltante disfarçado de entregador por aplicativo, na Zona Sul da capital.
O criminoso, que usava capacete e estava com uma mochila, fugiu de moto após roubar e matar o estudante no último dia 25 de abril. Acxel Peres foi preso quatro dias depois que se entregou à polícia. Ele confessou o crime.
Logo após a repercussão do latrocínio (roubo seguido e morte) contra Renan, o governador anunciou um pacote de medidas de segurança para tentar coibir os roubos cometidos por falsos entregadores. Entre elas, estão o aumento do efetivo policial e a realização de blitzes feitas pela PM nas ruas do estado para abordar motoboys suspeitos. As ações foram batizadas com o nome de “operação Sufoco”.
Atualmente 5 mil policiais patrulham diariamente a cidade de São Paulo, por exemplo, mas o efetivo chegará a 9,7 mil agentes por dia. E também há uma parceria com as empresas de aplicativo por celular para fornecerem dados dos seus prestadores de serviço às autoridades quando forem solicitados.
Em duas oportunidades, o governador também fez um discurso duro contra os criminosos que se disfarçam de entregadores. Em 3 de maio, Garcia havia dito que o “bandido que levantar a arma para polícia vai levar bala” em São Paulo. Dois dias depois voltou a dizer que as polícias Militar e Civil vão reagir “com muito vigor” criminoso que estiver armado no estado praticando crimes.
“Quem cometer crime em São Paulo vai ser preso. E bandido que reagir e levantar a arma pra polícia vai sim levar bala. Eu prefiro que entre o policial e o bandido, se tiver alguém que morrer, que morra o bandido e não o policial”, disse Garcia no dia 5 de maio. “Estou dando todo apoio à Polícia Militar e à Polícia Civil para que, dentro da lei, hajam com muito rigor, para que a gente possa ter a proteção da sociedade paulista”.
Nesta terça, o governador falou que dará seguimento aos contratos para equipar mais as polícias paulistas.
“E também, ao lado do esforço do pagamento desse bônus, a continuidade dos investimentos da segurança pública de são Paulo com a continuidade da aquisição de novos equipamentos e mais veículos pra que a gente possa avançar no combate a criminalidade aqui do nosso estado”, falou o governador durante evento na Rota.
Críticas das ONGs e sindicatos de entregadores
‘Bandido que levantar a arma pra polícia vai levar bala’, diz governador de SP ao prometer blitz para identificar falsos entregadores
As declarações de Rodrigo Garcia sobre o combate aos criminosos motorizados gerou críticas de ONGs e sindicatos do setor.
O Instituto Sou da Paz e o Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas de São Paulo (Sindmotos-SP), que representa os motoboys que trabalham com entregas, disseram na quarta (4) que as afirmações do governador podem aumentar a letalidade policial e ainda criminalizar a categoria dos entregadores que usam motos para trabalhar.
De acordo com Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz, apesar de a PM ter a prerrogativa garantida por lei de atirar em legítima defesa, a declaração de Garcia foi “ruim”, “populista”, “desnecessária” e “infeliz”.
Gilberto Almeida, o Gil, presidente do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas de São Paulo (Sindmotos-SP), e entregadores disseram que a declaração do governador pode, além de aumentar o risco de violência policial contra a categoria, alimentar o preconceito e a criminalização em relação aos entregadores.