Manifestamos nosso mais profundo pesar em relação à tragédia que recaiu sobre a escola de Goiânia, em que um aluno de 14 anos realizou um ataque com arma de fogo, deixando outros dois adolescentes mortos e quatro feridos em estado grave. Nossos pensamentos e solidariedade estão com as vítimas, os familiares e toda a comunidade escolar.
Em uma tragédia destas proporções, é importante ter serenidade e cuidar daqueles que tiveram suas vidas transformadas, incluindo o agressor e seus familiares. A polícia deve realizar seu trabalho com responsabilidade e também serenidade, para que possamos compreender o que aconteceu e levar informações a esta comunidade vitimada de forma sem precedentes.
Informações veiculadas apontam que o adolescente que teria realizado o ataque é filho de policiais militares e teria utilizado uma arma da polícia do estado de Goiás para realizar os disparos. Neste caso, a presença da arma de fogo em casa era inevitável – sendo ferramenta de trabalho –, mas ilumina os perigos inerentes à disponibilidade e acesso fácil a instrumentos dessa natureza, principalmente quando se trata de lares com crianças e adolescentes.
Não há como negar o potencial letal da arma de fogo. Acidentes e mau uso podem acontecer a qualquer tempo, acarretando a morte de inocentes. Dessa forma, evitar o acesso fácil a este objeto é um dever da sociedade e, para aqueles que ainda sim decidem tê-las, todas as medidas possíveis devem ser tomadas para manter armas e munições fora do alcance de crianças e adolescentes. Orientações corretas sobre o risco que a arma representa e a segurança do local em que é mantida são essenciais.
O cenário desta tragédia também merece olhar detalhado. O cotidiano das escolas do país tem sido dia após dia palco de violência. Em primeiro lugar, é fundamental que toda a comunidade escolar, professores, outros profissionais, famílias e outros serviços passem a ter ferramentas para identificar e lidar com situações de violências nas relações entre alunos e destes com os profissionais da educação antes que estas se agravem. Há inúmeras formas para que a escola trate dessas questões, como formar os profissionais para mediação e manejo de conflitos, desenvolver habilidades socioemocionais, fortalecer o protagonismo juvenil nos encaminhamentos dos dilemas escolares e a apropriação da escola pela comunidade.
Nossas organizações têm claro posicionamento a respeito dos riscos inerentes ao acesso e à circulação de armas de fogo. Infelizmente, ao conseguir acesso a uma arma, os resultados produzidos pelo ataque foram muito mais graves do que caso o adolescente não tivesse tido acesso a uma arma de fogo e sim a outros meios de mediação do conflito com seus colegas.
Esperamos que todas as vítimas – crianças, adolescentes, familiares e a comunidade escolar – se recuperem o mais rápido possível e que a sociedade brasileira possa enfrentar o luto que seguirá com serenidade e compaixão, colhendo os aprendizados e tomando medidas preventivas que possam evitar novos casos, e reduzir o número de vítimas perdidas para a violência armada.