Entre 2012 e 2022, de cada dez mulheres assassinadas por arma de fogo, sete eram negras. E quase 40% dos crimes cometidos com esse tipo de arma aconteceram dentro de casa.
Reportagem publicada pelo Jornal Nacional (clique para acessar texto original) sobre a 3ª edição de O papel da arma de fogo na violência contra mulher do Instituto Sou da Paz
Um levantamento, mais amplo, de 2012 a 2022, feito pelo Instituto Sou da Paz com dados do SUS, mostrou o papel das armas de fogo na violência contra a mulher.
Ester tinha 20 anos. Foi morta pelo ex-namorado em um beco em Belo Horizonte, quando saia de casa para trabalhar. A copeira Fernanda Gomes, mãe de Ester, viu quando a filha levou o primeiro tiro na cabeça e quase também morreu ao tentar impedir o crime.
Ester morreu com três tiros em março de 2020. A Justiça condenou Talisson Martins da Silva a 26 anos de prisão. A pintura na rua onde aconteceu o crime é uma lembrança e um pedido de justiça por ela e outras tantas mulheres assassinadas Brasil afora.
“Eu gerei, eu amamentei, eu passei as noites em claro com ela. É uma questão de indignação que eu sinto. São várias de nós mortas em todo o Brasil. Não é só a Ester, não é só a minha filha, são várias, que fica impune”, diz Fernanda.
A pesquisa também aponta que em metade dos crimes houve uso de arma fogo. E essas armas também foram usadas para praticar outras agressões contra as mulheres, como violência sexual, psicóloga e financeira.
Entre 2012 e 2022, de cada dez mulheres assassinadas por arma de fogo, sete eram negras. E quase 40% dos crimes cometidos com esse tipo de arma aconteceram dentro de casa. O estudo mostra ainda que em um quarto das notificações de violência armada não letal há suspeita de que o agressor fez uso de álcool.
Essa brutalidade atravessou a vida de da assessora parlamentar Kérsia Pereira Dias duas vezes. Ela era criança quando presenciou o pai matar a mãe a facadas, dentro de casa. Anos mais tarde, um ex-namorado atacou a irmã dela. Ana Clara levou um tiro na testa na clínica de fisioterapia onde trabalhava, em Belo Horizonte. Ela tinha medida protetiva. O homem se matou em seguida. Ana tem sequelas graves, não fala, nem movimenta o corpo. Depende de cuidados 24 horas.
“Eu tenho muito medo, porque eu tenho uma filha. A mente do homem tem que mudar. Então, eu acho que, talvez, daqui para lá, essas crianças de hoje tenham uma mentalidade diferente e isso melhore lá no futuro”, diz Kérsia.