Artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 27 de outubro de 2012:
LIGIA RECHENBERG ESPECIAL PARA A FOLHA
Setembro foi o mês mais violento do ano na capital paulista. O saldo de pessoas assassinadas, 144, é o mais alto de 2012 e também o maior desde janeiro de 2010.
No acumulado dos nove meses deste ano o número de mortos já se aproxima do total de 2011 inteiro. As estatísticas revelam o que todos já percebemos nos últimos meses: há uma crise da segurança em São Paulo.
A expressiva quantidade de roubos, os latrocínios que voltaram a crescer em setembro, o número de mortos pelas polícias são sinais de que a situação é muito grave.
Desde que os indicadores começaram a subir, as autoridades têm adotado um discurso que ora exime a polícia de suas responsabilidades na contenção dos crimes (clamando mudanças na legislação penal), ora contribui para os confrontos ao apoiar uma atuação mais “enérgica” por parte da polícia, ora minimiza o problema, negando a suposta guerra entre PM e PCC e tratando com naturalidade o fato de que quatro pessoas morrem assassinadas por dia na cidade -isso sem contar os mortos pelas polícias.
Mais do que tentar entender o que está por trás da crise e se há de fato uma guerra, é preciso questionar se esse discurso que vem sendo repetido desde junho precisa ser revisto. Afinal, de lá pra cá, nada melhorou.
Os acontecimentos das últimas madrugadas, com mais PMs atacados e civis baleados e mortos nas periferias, indicam que a tendência é que o bang-bang continue.
É mesmo dessa política de segurança pública que São Paulo precisa nesse momento?
LÍGIA RECHENBERG é coordenadora do Núcleo de Análise de Dados da ONG Instituto Sou da Paz