Reportagem publicada na Folha de S. Paulo em 26 de fevereiro de 2013.
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
O número de casos de homicídios dolosos (com intenção de matar) cresceu 16,9% no Estado de SP em janeiro deste ano em relação ao mesmo mês de 2012, segundo dados divulgados pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB).
Foi o sexto mês consecutivo de alta, sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Foram 416 casos, com 455 vítimas. Em uma mesma ocorrência pode haver mais de uma morte. No mesmo período de 2012, foram 356 casos e 386 mortos.
Em janeiro do ano passado, o secretário da Segurança Pública de Alckmin era Antonio Ferreira Pinto, que caiu em outubro de 2012 em meio ao aumento de assassinatos.
Procurado para comentar a alta da violência, o novo secretário, Fernando Grella Vieira, não respondeu ao recado deixado pela Folha. No seu site, a secretaria fez análise diferente dos homicídios.
Em vez de comparar com o mesmo período de 2012, como prevê seu Manual de Interpretação da Estatística de Criminalidade, a pasta comparou janeiro com dezembro.
Nessa perspectiva, não houve aumento de ocorrências, mas uma queda de 21%.
O manual diz que “índices criminais estão sujeitos às variações climáticas, sazonais e irregulares” e cita o verão (mais gente na rua, por mais tempo) e as férias escolares.
Grella assumiu a secretaria depois de a escalada da violência levar 2012 a ser o primeiro em cinco anos em que a taxa de homicídios superou os 11 casos por 100 mil habitantes. A meta do governo é índice inferior a 10.
No ano passado, mais de cem policiais militares foram mortos como uma possível reação do crime organizado.
“Foi ano atípico, com muitos policiais se tornando vítimas e uma aparente volta de grupos de extermínio. Isso parece estar se revertendo”, diz a secretária-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
Nos 12 meses do ano passado, havia em média 14,2 mortes ao dia. No mês passado, a média foi de 13,4.
A Grande São Paulo foi a região que teve o maior aumento de casos de homicídios em janeiro (24,2%). Na capital, o índice foi muito parecido com o do Estado (16,6%).
OUTROS CRIMES
Dos 20 crimes analisados pela secretaria, seis não subiram em janeiro -entre eles, homicídio culposo (-68%) e roubo de carga (-1,5%). As maiores altas foram latrocínio (61%) e estupro (20%).
Para a diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, o aumento da criminalidade é reflexo do enfraquecimento da Polícia Civil, que não tem conseguido esclarecer tantas ocorrências.
“Em Nova York todos os crimes são investigados. Aqui, o governo só divulga a quantidade de investigações abertas, mas não quantas foram concluídas. Se um crime não é investigado, cria-se uma sensação de impunidade que favorece a prática de outros crimes”, afirmou.