Clique aqui para ler a matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 19 de agosto de 2013
por ARTUR RODRIGUES e BRUNO PAES MANSO
Revólver, calibre 38, marca Taurus. Esse é o perfil da arma mais encontrada com criminosos na cidade de São Paulo, revela o estudo Armas do Crime elaborado pelo Instituto Sou da Paz. A maioria das armas apreendidas pela polícia (45,3%) foi usada em roubos e, entre os presos com elas, 6,4% já haviam matado.
A pesquisa foi realizada com base em dados referentes a casos de prisão em flagrante, entre abril e junho de 2011, fornecidos pelo Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo). A amostra usada foi composta por 466 armas.
Mais baratos e fáceis de usar, os revólveres correspondem a 65% das apreensões. A marca brasileira Taurus domina o mercado com 56,2%. Se for contabilizada a Rossi, comprada em 1997 pela Taurus e com 11,9%, a empresa é a fabricante de 68% das armas encontradas com criminosos.
A conclusão dos pesquisadores é que esse é um tipo de arma que é comprada pelo cidadão comum, por empresas de segurança e por guardas-civis, mas, posteriormente, acabam roubadas ou desviadas de alguma outra maneira para o mundo do crime. “As pessoas falam que criminoso não compra arma na loja, mas a arma comprada na loja acaba na mão dos criminosos”, afirma o coordenador do Sou da Paz, Bruno Langeani.
Mesmo grupos treinados e com o porte garantido por lei – como policiais, juízes e promotores – podem ter suas armas desviadas e usadas por criminosos. É o que mostra o fato de 4,1% do armamento apreendido ter calibre .40 – de uso restrito a esses grupos. “Há discussão de várias categorias, como agentes penitenciários, que querem o porte. Esse dado mostra que é importe restringir os grupos com esse direito, porque muitas vezes os criminosos vão atrás deles para roubar as armas”, afirma Langeani.
Calibre
De acordo com o levantamento, 69% do total de armas corresponde a calibres permitidos. O calibre 38 representa 52,4% das apreensões. Isso mostra que a impressão corrente de que os bandidos usam armas como fuzis e submetralhadoras pode ser enganosa.
Entre as apreensões, só 0,2% correspondia ao calibre 7,65 mm, de alguns tipos de fuzis. Cabe a ressalva de que quadrilhas mais organizadas de assaltantes, que usam armas pesadas, não representam a maioria das prisões da polícia.
Nas apreensões, depois de roubo, o segundo motivo de prisão é o Estatuto do Desarmamento, com 40,8%. Na prática, essas pessoas foram presas antes de cometer algum crime e também poderiam engrossar as estatísticas de roubo. “Quando a gente vai olhar as pessoas presas por porte ilegal, elas têm alto índice de antecedentes por roubo”, diz Langeani.
O terceiro motivo de apreensão é o tráfico de drogas (7,2%), seguido por receptação de produtos roubados (2,7%) e latrocínio (1,3%).
Antecedentes
Entre os presos com as armas, 27,2% têm antecedentes criminais por roubo. Depois, vêm porte ilegal de arma (12,4%), receptação (11,9%), furto (9,4%) e tráfico (9,4%). A cada cem presos, seis tinham antecedentes por homicídio, mostra o estudo.
O perfil das pessoas detidas com armas é composto majoritariamente por homens jovens. Segundo o estudo, 60% tinham entre 18 e 25 anos. Outros 16,6%, estavam na faixa de 26 a 30 anos. Só 2,3% tinham mais de 51 na época da prisão. Do total de presos com armas de fogo, 98,3% eram homens.
A pesquisa também mostra que os presos não carregavam só armas de fogo. Em 18,6 % dos casos, os acusados tinham em seu poder armas de brinquedo e em 16,4%, armas brancas.